Janeiro 2002

Falabella!

“Em alguma outra vida, devemos ter feito algo de muito grave, para sentirmos saudade

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatolgista, como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem (por causa daquela mania de estar sempre ocupada), se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua preferindo Skol, se ela continua preferindo suco, se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados, se ele continua cantando tão bem, se ela continua adorando o Mac Donald’s, se el continua amando, se ela continua a chorar até nas comédias.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, a ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso…
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler.”

Miguel Falabella –

Morte segundo Neruda …

Este texto que uma amiga do peito me enviou tocou-me muito. Obrigadooooooooooooooooo

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não arrisca vestir uma cor nova e não fala com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro ao invés do branco e os pingos nos iis a um redemoinho de emoções, exactamente o que resgata o brilho nos olhos, o sorriso nos lábios e coração aos tropeços.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho.

Morre lentamente quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, ouvir conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte, ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem destrói seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, nunca pergunta sobre um assunto que desconhece e nem responde quando lhe perguntam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em suaves porções, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples ar que respiramos.

Somente com infinita paciência conseguiremos a verdadeira felicidade.

Pablo Neruda

Os amigos de Alex… ou quase

Este fim-de-semana está a ser pantagruélico e não tenho memória de tantas refeições ecuménicas em carteira.

Sexta-feira foi um dia penoso de trabalho, como alias são quase todas as Sexta-feiras quando não se trabalha ao Sábado de manhã. Mas ao Jantar reuniu-se a velha guarda das férias da adolescência. Para me relembrar que esses tempos, já são longínquos no tempo e na memória, nada como saber que B., o ás do secador verde-alface kitado para 62,5 C.C. roda da frente no ar levantada, é agora um feliz papá de uma saudável menina de 3960 gramas.

O Inspector P. meu inseparável da época da caça grosa e mangueiradas labrugenses, agora selecto agente do Sr. Director Geral, que me arrastava no passado para penosas encrencas, abala agora para a grande cidade onde por um largo período vai ser formado como investigador.

Quem diria que o moço que conheci há 15 anitos (mais as suas irmãs boazudas), será também ele papá dentro em breve. Aquele mulherengo incondicional e “casanova” desmesurado, usa agora crachá e tem sempre à mão uma beretta. Inspector P. e eu éramos e somos inseparáveis, só que agora não tanto no que toca à má vida e noitadas. Mesmo na nossa pior fase do “semi-delinquente”, em que partíamos lampiões e roubávamos placas de transito aos sábados à noite para desviar o transito de Domingo, eu e ele sempre alimentamos respeito um e uma enorme cumplicidade.

E recordo-me como se fosse hoje, quando B. obstinadamente alcoolizado queria «mandar ao soalho aqueles f.. da p…», ou seja derrubar três motociclistas que passavam nas suas Zundapps escape de alto ronco enquanto, eu o Inspector P. o tentávamos agarrar, a custo… O rapaz estava possesso e quase que tivemos que o mandar para o chão para segurar. O curioso é que um dos «mokotos» se mandou e raspou mesmo o soalho todo. Depois foi uma pacifica conversa de como «kitar» motorizadas com o sujeito ainda no chão com as jeans rotas do espalhanço… enfim… Velhos tempos.

Os últimos quinze dias de…

Sonhos e Reencontros– (sexta parte e última parte)

Já assumindo uma rotina, sem contudo perder o mau habito de me deitar tarde, continuo num novo quotidiano menos fantasioso. As cinco horas que durmo diariamente não são suficientes, mas mesmo assim sonho, mas não sonho acordado.

Os nossos sonhos são importantes, dão alento, mas também podem ser perigosos pois afastam o sonhador da realidade, confundindo-o e baralhando as suas prioridades. Acho que não conheço alguém que nunca tenha sido possuído pelos seus próprios sonhos em alguma altura da sua vida, caindo nas malhas das suas próprias ilusões.
Sou um sonhador de facto e não escondo isso. Sonhar e acreditar é algo diferente da ilusão, quando os sonhos tomam conta de nós. Sonhar e acreditar é fé e esperança, ao passo que a ilusão é uma mera mentira, mas que não é muito diferente do sonho: existe só uma fronteira muito estreita entre essa realidade e fantasia. Entre o que queremos atingir ou desejamos Ter e que tenhamos possibilidades de lá chegar, e aquilo que achávamos ser a nossa meta, mas que apenas serve de miragem uma vez que é impossível de ser alcançado.

E os peixes não são muito brilhantes a fugir a essa armadilha. No passado deixei-me consumir por ilusões vezes sem conta. Felizmente estamos sempre a crescer e a experiência é boa conselheira.

Fiquei feliz por finalmente rever a malta amiga. Em casa da maninha tivemos um repasto delicioso que só pecou por ter as tripas frias. Claro que me esperava uma leve gozação por causa da Iguaria, mas era suposto ser assim, que se há-de fazer… (nota:nunca esquecer de usar iniciais! Nunca se sabe quem pode vir a ler isto!. Foi com alguma ternura que estive no meio dos compinchas, se bem que sentisse que havia um time gap correspondente ao tempo de ausência que esmorece sempre as coisas.

Combinamos um jantar Sábado, que acabou no Martinho. Não foi uma escolha muito feliz da minha parte, nem sempre as experiências se podem repetir com exactidão. Sereno jantar e fomos até um cafezito-bar. Depois e após desistências fomos até ao 3plex. Caramba que música! 80s ao seu melhor. Muito cheio e acabamos por vir cedo. G. esteve lá depois quando aqueceu o dance floor. É uma história de desencontros…

Que acabei de ler

Nunca se pode prever o que vai acontecer. Pelo menos a longo prazo, este conceito é unanime nas ciências exactas. Mas será que o espaço-tempo é linear? Talvez nunca tenhamos provas em contrário, muito embora existam aqueles inexplicáveis profetas.

Há muito tempo que me interessava por Nostradamus, mesmo antes da passagem do milénio, tendo lido um interessante livro de interpretação das Centúrias. Este profeta do séc. XVI usou um código emaranhado de latim, francês antigo, com alusões e metáforas simbólicas para designar zonas geográficas e personagens importantes da história.

Acabei de ler recentemente um livro editado em 1995 que, segundo o exegeta, cobre o fim de uma era de grandes conflitos que antecedem a entrada na era de Aquário, uma época que marca um longo período de paz mundial a partir de 2024. Até lá poder-se-ao esperar várias invasões da Europa, isto segundo o intérprete baseado em algumas centúrias. Estranho supor na actualidade tal desastre, mas o futuro é sempre incerto: há uns anos atrás se alguém afirmasse que WTC ia ruir depois de um atentado com dois Boings provavelmente era internado no Magalhães Lemos. Por outro lado, como raramente existem datas precisas, quando muito recorre a alinhamentos dos astros, nada nos garante que tais previsões se destinam a outros séculos que não o XXI.

Se o tal senhor previu com extraordinária precisão as guerras napoleónicas e as Grandes Guerras Mundiais é preciso dar-lhe algum crédito

Os últimos quinze dias de…

De humoris– (quinta parte)

Quando N. e Jo. Voltaram da sua passagem de ano em África, em que estiveram literalmente rodeados de italianos, estavam ainda bastante embebidos das cores da mãe África e das paisagens inóspitas de Sal. Se bem que não lhes tenha corrido da melhor forma as mini férias, não só pelo preço, como também pelos contratempos, confirmando que Cabo Verde não é de facto um destino de passagem de ano apesar do calor e do sorriso que traziam.

Como não podia deixar de ser, I. e eu fomos requisitados para assistir a apresentação oficiosa dos 9 rolos de fotografias num jantar no Martinho. Felizmente o humor requintado de I. conseguiu que a maratona não fosse tão fastidiosa. Acho que uma das qualidades que tornam as pessoas mais interessantes é ter a qualidade de utilizar um humor very british, daquela nada evidente que não retira uma gargalhada instantânea. Provavelmente o que destingue o homem dos primatas é a capacidade de humana de rir. Mas o que destingue um Cro Manhon de um Homos Sapiens Sapiens e a capacidade saborear piadas refinadas e hilariantes sem necessitar que lhe mostrem um placar com RIR a letras GARRAFAIS e com um desenho explicativo com muitas cores.

O humor tem um papel muito importante nas nossas vidas cinzentas. Desde Monty que aprecio Nonsence e o humor negro, e adorei a bastantes fases da carreira de Herman. Tal Canal, Hermanias, Humor de Perdição, Casino Royal, Pensão Estrelinha (o seu ponto mais alto – ” Eu é mais bolos” ) e Herman Enciclopédia. Infelizmente ele é já incapaz de fazer piadas sem recorrer a bons textos. Não ultrapassa uns trocadilhos hardcore com fruta e legumes para tentar arrancar algumas gargalhadas, vivendo às custas de uma ou outra personagem que consegue encarnar – o Nelo é realmente brilhante. Resmas!

I. confessa que não resiste aquele ser efeminado que é incapaz de entender o significado das palavras e que troca as sílabas das mesmas até as tornar em conceitos absurdos. Resmas!
De certa forma I. está também em profunda mudança na sua vida e fico muito orgulhoso em apreciar a sua coragem e a maneira como partilha comigo os seus medos e hesitações que sempre se nós colocam depois de termos dado um passo em frente. Crescemos sempre quando mudamos, nem que seja para pior, mudanças essas que nos tornam mais fortes no trilho que se chama vida.

Foi um serão memorável.

J. acabou por comprar um maquinão que grava CDs e tem DVD e estou a aproveitar alguma pirataria… De resto algumas nuances e o atrito do inicio do ano com uma gripe e respectivo catarro. Tenho convivido muito com M. J. e A. nas sessões de obcecados com cartas.

G. tem telefonado. Noto algum desespero na sua doce voz. Mesmo assim atenciosa e afirma que está tudo bem.

São as meninas da Madeira,
Ternas, graciosas, ideais.
Ficam-se doido vendo-se a primeira,
Doido se fica, se se vêem mais.
Qual a mais bela da ilha da Madeira?
Se todas…
São iguais!

António Nobre

Os últimos quinze dias de…

Soulhouse music e 2002– (quarta parte)

A última semi-semana de 2001 passou demasiadamente depressa e cheia de pequenos sobressaltos. Acho que o meu corpo já dá os primeiros sinais de envelhecimento e dá de si depois de tantos maus-tratos. Mas como a cabeça não tem juízo e o corpo é que paga sexta-feira começou em ânsia com um serão em que os bom velhos amigos ou melhor os velhos compinchas Dr.P e Sr.Q na casa deste último.
Foram várias horas de alegre cavaqueira e uma garrafa de whisky belho que me acabaram por levar até a uma dessas tascas da moda até às tantas. Mas esses desacatos pagam-se caro e Dr.P ,que trabalhava no dia seguinte, acabou por quase mandar para a sucata o seu Audi 80 quando um enorme rochedo se atravessou à frente da estrada com o piso molhado a ir para o consultório?

Na noite seguinte, M. e eu não nos fizemos e fomos até uma dessas festas com um DJ de importação dos Estados Unidos, numa festa que até prometia algo ao início, mas que depois se tornou algo repetitiva e pretensiosa. Valeu pelo divertimento e piadas caseiras e termos encontrado G. e a comitiva, num bar de Leça em que uma garrafa de Jameson ostentava pornograficamente o nome do proprietário: Dr. G..

E depois veio o dia 31.

E se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. Dito e feito, deu-se inicio à operação Centro 2001/2002 na companhia dos intrépidos J. e A. ainda antes de acabar a hora de expediente.
Risos e pressa durante a viagem. Mas depois tudo se tornou impecável. Embora já esteja enfadado com o simbolismo da passagem de ano, e de passar em Portugal pela primeira vez em ? 5 anos ( parece mentira!) , pois as paragens de nuestros hermanos, desde La Coruña, Salamanca e Verin sempre são verdadeiramente festivas. Acho que a chegar para o calmo e com bastante companheirismo estava a precisar de uma passagem de ano assim mais recatada. E as piadas do Fat Burguer , com o menu especial Três Pastorinhos, ou com assédio ao pobre M. que levou com todos os perdigotos venenosos em carteira, mesmo os do Alex fricassé.

Jantar já a desesperar pois Nazaré estava a abarrotar, mas lá encontramos um restaurante fino em S.Martinho do Porto e lá fomos ver o fogo na Nazaré e caminhar pelo povo. Às doze badaladas lá tomei umas resoluções importaes para este ano que ai de mim se não as cumprir…

Late nigth show da praxe com um bar aberto e bastantes gins e uma loira alta definitivamente de importação?

Os últimos quinze dias de…

Jingle balls e outros actos– (terceira parte)

Creio que fui atingido de bastante preguiça no que toca a actualizar o meu weblog nas últimas semanas mas aqui continua um pequeno esforço para repor o diário de um meliante, e isto se a memória não me falhar…

Com o fim dos bits e dígitos, abracei peremptoriamente o retorno à velha e talvez única economia. Das 9 às 19 como sempre deveria ter sido… e com o picar do ponto mesmo ali ao lado?

Nos dias que antecederem as exéquias natalícias fui um dos 200.000 portugas que acorreu com ânsia ao muito antecipado Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring, logo na primeira semana, numa noite de frio intenso na companhia de M. , J. e A. que curtia umas feriazitas.
O filme é soberbo, muito para além de que seria possível prever, numa das mais complexas e difíceis adaptações, que só um génio louco como Peter Jackson, que tanto estimo depois de ter realizado o FANTÁStico Braindead, seria capaz de aceitar o desafio. Bom, só faltou chorar por Dezembro de 2002 e 2003 para a continuação das outras duas partes da obra de Tolkian.

Após o filme fomos correr as capelinhas, mas qual o nosso espanto de que a tradição já não é o que era?Estava quase tudo fechado naquela noite gélida. Um Labirinto sem Minotauro foi a decisão?

As inevitáveis prendas da festa do consumo foi escolhidas a dedo à última da hora como não podia deixar de ser, ou não fosse eu um tipo que guarda tudo para os derradeiros momentos. Fiquei feliz pelo meu mano me ter vindo visitar directamente das madeiras e visitei a quase família que tanto preso. Telefonemas e SMS para a malta. E depois veio o bacalhau e aquelas coisas ruins que não consigo resistir.

Foi um Natal bastante feliz

Mas aos Reis pesei-me e não queria acreditar.

Mudamos

Mudamos, e voltamos a mudar.
Somos coerentes e constantes apenas na mudança.
Como Voltaire por quem o Psicótico residente possui muita estima.
Transformações.
Energia.
Acção.
Reacção.
Nada permanece….
Apenas prevemos a Existência.
Ultrapassamos conceitos obsoletos.
Vida / Morte.
Luz / Trevas.

E vivemos.
Eternamente.
Mudando e voltando a mudar.
Mente.
Corpo.
Alma.
Matéria.
Energia.
Entidade.

Claro que tinha que ficar gripado loga na segunda semana do ano. E cheio de sono.
Mas não te esqueci.
Aguenta que já escrevo!