Março 2002

Vou ter que marcar férias. Por estranho que pareça, andar com calendários para três e para a frente não me dá prazer algum. Muito pelo contrário é só dores de cabeça. Obriga-me programar as férias e delinear um plano, faz-me sentir como um general carniceiro da primeira Guerra Mundial, que planeia um ataque em força – ou seja – às cegas!

Bom e depois terei férias. Talvez seja melhor fugir a Agosto e apostar numas viagens exóticas…

G. mais uma vez vez.
Torna-se hábito ou necessidade?
Vontade ou destino?
Já não sei…

Há certos locais e alturas que sem sabermos, acabam por nos enviar uma mensagem ou um marco na nossa vivência. Acho que ontem foi um desses dias.

A Primavera apresenta-se com um ar da sua graça muito forte e os espíritos logo se embriagam e os sentidos adormecidos ficam mais alerta.

Depois de um Sábado em cheio e repleto de tarefas, eis que o jantar combinado à ultima da hora com N. e P. levou-nos para um sítio como que mágico, e alterado. Eu sabia que as Noites Belas se iriam repetir no Triplex mas não poderia imaginar tanto esplendor de uma música assim. Um soberbo jantar, que por sinal não foi caro, levou-nos a permanecer até a meio da manhã, num furor e nas brasas de delírio. P. como que se converteu ao catolicimo do DJ e quis já fazer reservas para todos os meses voltar a marcar o ponto, renegando o Estado Negro. “A música é demais e as gajas aqui apesar de não serem tão bonitas, são mais atraentes, interessantes e não são betas”. N. limitou-se a deambolar, verdadeiramente entusiasmado, com um sorriso que não via há muito.

G. também estava lá e não admira que a noite tivesse para mim uma magia acrescida por esse simples facto. Dançamos e dançamos ao ritmo dos fabulosos anos 80-90 fora dos tops estupidificantes, como se nunca tivéssemos dançado. As horas não passavam nem havia tempo: apenas o momento e a emoção.

Ao sair tive um sentimento de certeza que me invadiu, como se alguém me tivesse entupido com algum êxtase disfarçado no Gin Tónico. Decerto que nada daquilo era aleatório, e aquele Sol não era uma ilusão. Acho que a claridade me bateu forte e o pensamento me agrediu a consciência como uma verdade irrefutável. Os meus medos eram infundados: mesmo que chegue a velho e tenha uma vida longa (que tenho serias duvidas que venha a suceder), não vou envelhecer. O corpo e os ossos podem se amolecer mas o meu espírito não.
Firme hirto!!!!!!!!!

Como diz o ditado:

a sorte e o sucesso só contemplam os intrépidos e audazes.

Não podia ser mais verdade…

Resta o tempo e uma nova vida resplandece.

E depois dos festejos carnavalescos com perucas e equipamentos afis, nas terras famalicenses, volta-se a tentar juntar os ossos e recuperar as maleitas de duas festanças quase seguidas. O tempo passa ligeiro e as semanas sucedem-se, umas mais banais e rotineiras, outras cheias de dramatismo e comédia do teatro da vida.

G. permanece um ponto de referência e cruza-se comigo quando menos espero. Aqui, ali, acolá. Como se nada de previsto servisse para nos juntar de forma estranha como um conjunto de encontros clandestinos. Seus olhos me hipnotizam e sempre sinto como que um grito estranho da sua alma, mas que nunca concretiza no exterior e eu não me sinto com forças, ou à vontade para lhe arrancar cá para fora. É sempre noite, é sempre fashion, é sempre dois mundos à parte.
E eu ainda não pulei. E há sempre um nó por desatar nas nossas vidas que sabemos que podia ter sido simples de abrir.

As últimas semanas foram ensombradas pelo desassossego. O Meu Muito Caro Inspector P. foi finalmente pai. Mas logo após as felicitações ouve a sombra do anjo negro rondando Ana para desespero dos jovens pais. Nessas alturas de suspense pouco à a fazer senão dar o nosso apoio e partilhar a nossa sincera apreensão, dando algum conforto e apelando à Fé e Esperança.
Deixo-me abater quando a roda do destino anda à roda, deambulamte para um desfecho. De todos os males a saúde é o mais estranho. Escapa-se ao nosso controlo para lá de um aspecto causa/efeito. Como a lotaria é uma questão de chances. Temos a cautela e resta-nos esperar.

Felizmente a bebé reagiu e conseguir dar algum animo e felicidade aos alarmados e traumatizados pais que agora se desfazem em mil cuidados e receando perigos vindos do nada.

Resta o tempo e uma nova vida resplandece.

Guerreiro da Vida

Às vezes Dom Quixote extravasa as suas emoções de forma lúcida mas aguerrida, aos desabafos. 20 centímetros? Mas é sem dúvida um Guerreiro da Vida, um Aiatolah da perseverança e um amigo do peito.

Então? Para quando o grande salto das alturas? O VTS não é nenhum sucedâneo para isso!

Aniversário!

Comemorar o dia em que respiramos pela primeira vez, choramos pela primeira vez, sorrimos pela primeira vez e vimos este Sol tão lindo, mesmo que apenas por uma persiana entre-aberta, pela primeira vez, é bonito é lindo…
É…
É apenas uma vez no ano….
Quando é uma vez no ano!
E isso é que não!!!!
Vamos passar a comemorar o nosso aniversário todos os dias?
Lembrar o primeiro, até ao ultimo dia?

Sorrir como na primeira vez.
Ignorar que existe dor como na primeira vez.

Parabéns, a todos!
A ti também!

Viver é conhecer e aprender. Estas palavras podem não ser muito fortes mas revelam algo de intrínseco, para além da carga subjectiva que transportam. Mas é isso exactamente o que se chama viver. É lutar contra o determinismo do Caminho que afinal de contas somos nós que o escrevemos.

As ovelhas vivem em rebanho cheias de certezas, como sabendo que amanhã será igual ao dia de hoje e que o pastor as levará a novos pastos. Afinal sabem tudo, mas tudo o que precisam para sobreviver.

Muitas pessoas são como estas ovelhas, têm todas as certezas e sabem o caminho que seguem, mas não passam de um rebanho liderado por um pastor invisível, sem saber que as suas certezas são superficiais e não passam de carne, lã e leite avaliados a preços de mercado. Apenas sobrevivem e não vivem de facto.


Decididamente hoje estou pessimista.

Melhores dias se antevêem!

Uma vez perguntaram a Confúcio:

– O que o surpreende mais na humanidade ?
Confúcio respondeu:
– Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro
e depois perdem o dinheiro para recuperá-la.
– Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal
forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro.
E concluiu:
– Vivam como se nunca fossem morrer e morram como se não tivessem
vivido…”

( Confúcio – China: 551 AC – 479 AC )