Abril 2003

Saudoso de Búzios e fazendo horas para apanhar o võo da TAM para FOR, estou já sentido o ausentar do stress da vidinha europeia.

A praia de Geripá foi gostosa, e deu para apreciar um chopp gostoso com casquinha de siri e isca de peixe, bem no meio da praia. Na praia de Ferradorinha foi muito bom também. Já estou pegando uma corzinha castanhinha.
O Eleven em Cabo Frio foi nosso local de diversão favorito, não só pela abundancia de caça grossa, como também pela música animada.
correndo tudo bem, a galera tá manera e tem rolado muita coisa de bom.
Agora tenho que ir que a hora do meu voo tá chegando.

Despido de juízo, penso que te desejo
E sei que meu tempo cavalga e urge.
Viajo em breve para onde não tenho destino;
No derradeiro encontro, esse adeus insano,
Quebraste a minha consciência
Semeaste minhas dúvidas plenas de sedução.

Tento esquecer todos os beijos que ficaram
E de como vazastes meu tino, derramado
Num inocente sussurro que me faz ferver a libido.
Sou agora um espectro que se consome de paixão.
A tua lembrança crava uma adaga no coração.
Será meu destino, procurar e retornar a esse amor vivido?

A tristeza amarga da saudade consumada
Gela-me num calor tórrido da incerteza.
Viajo agora sem sair, penso em voltar,
Vazio de emoçõo das distâncias percorridas
Anseio a força de todas as caricias contidas
Abraço o esquecimento do inesquecível.

Presidiário de uma cadeia de ausências,
Sinto falta do teu olhar,
Sinto falta do teu sorriso,
Sinto falta dos teus abraços,
Sinto falta dos teus beijos.

A noite passada

A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas “sou gaivota e fui sereia”
ri-me de ti “então porque não voas?”
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste

A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos

A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho “olá”,
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste “ainda bem que voltaste”

Sérgio Godinho : A noite passada

Parte VI – Três mosqueteiros e Iracema

Finalmente as últimas horas estão a seguir inexoráveis. Caminham e desenvolvem. Uma após a outra passam fluidas, já não estão paradas. As preocupações já se desvanecem. Aprumam-se as ultimas despedidas. Mesmo nas três frentes. Excepto na frente Leste onde hoje não vou resistir a uma escaramuça que me pode causar sérias mazelas, uma vitória rápida ou uma esmagadora vitória dentro de semanas. Tudo depende dos ventos de guerra.

O tempo sai fluido e dentro de horas estarei nas férias merecidas, e quais três mosqueteiros, como tudo se encaminha, quer em mentalidade e coragem. N. e Dr.P. estão em plena forma, desesperados como eu em arrebentar tudo que houver para arrebentar e ter zero segundos de aborrecimento.
Descanso, festa, alegria, loucura, descontracção, mulheres e copos são a nossa ementa não programada. Acho que fazemos uma boa equipa, equilibrada, coesa. Se N. diz mata, Dr.P. diz esfola, e eu trago o machado. Se peço um copo, N. pede outro e Dr.P quer pagar os três. Se eu quero ficar até ao fim, Dr.P. quer ser o último a sair e N. ainda voltava a tentar entrar. Sofregos e Cª!
Vai ser bom, e só mesmo um grande selecionador seria capaz de montar um terceto ofensivo como o nosso. Penso que vamos dar muitas goleadas!

E nestas andanças me despeço, uma vez que nem sei se vou voltar. Posso-me perder num grito estridente de cisne, nos braços de Iracema ou Iemanjá, e para sempre ficar sepultado nas terras da Vera Cruz.


Adeus! Até sempre, ou até já!

Fim

ou talvez não

Parte V – Start your engines

Apesar de estar absolutamente derreado, consigo mesmo assim manter o bom humor. Felizmente que a ideia de viajar, apesar de não ser uma obsessão, está a dar algum alento. Este fim de semana de Páscoa saldou-se por um absoluto nó na cabeça às custas de encontros de última hora. Estou frágil demais para avaliar com frieza se todos foram bons, óptimos ou algo semelhante ao Titanic. São mesmo muitas frentes e o envolvimento do inimigo promete romper as minhas linhas.

A Oeste nada de novo, mas na frente Leste dá-se uma batalha sangrenta. Parece que é aí que se pode ganhar a guerra… mas também perder a guerra. Tem é que se aguentar as posições, até todas as divisões de reserva serem para aí transportadas. Só espero que a estratégia resulte, e que não seja uma carnificina, nem que hajam ataques supresa na frente Oeste ou Sul.

Fora estas tácticas, estou decentemente ensonado. Realmente estou cansado, e para cumulo o sono não vem com facilidade. Acho que se só tirasse férias em Maio ia mesmo queimar um fusível. Mas ontem surgiu-me uma dúvidade de uma mente nada lúcida. E se eu fosse só depois de resolver a frente Leste? Creio que fraquejo. Não posso!

Parte IV – Últimos preparativos

As despedidas sucedem-se e os preparativos intensificam-se. Não que eu esteja demasiado ansioso ou histérico em antecipação com estas férias que acalentava há tantos anos. Muito pelo contrário, não estou sequer com planos de estadia. Apenas sei que vou desaguar no Galeão seguindo directo a Búzios e depois logo se vê… Digamos que vou ao sabor do vento, ou melhor das mulatinhas & capirinhas.

Toda a questão prende-se com o serviço que tenho que deixar pronto na velha Europa: não só no campo profissional, como noutros campos. Envergonho-me que na última semana, a minha vontade de trabalhar e atenção está muito próxima da capacidade de uma Amiba.
Três jantares com as mais belas presenças em quatro dias, intercalados por um chá a dois, tem colocado a toda a prova a minha capacidade de endurance física e mental, e isto para não falar em acérrimas noitadas.

Finalmente acelero para todo-galope, esporas e chicote incessantes, tentando encabeçar a fila da frente e rezando que ainda sobre estamina para o sprint que ainda muito lá à frente vai ser exigido. Já só sinto o vento sibilando, o ruído ensurdecedor do troar dos cascos e visualizo uma linha imaginária no horizonte bem em frente, essa meta que ainda está longe.
E a todo-galope…

Parte III – Perdendo o Clube Kitten@Lux

Uma das noites mais especiais dos últimos anos, em termos de diversão noctívaga e andamento, foi sem dúvida a minha ida em Março até à grande cidade, qual groupie , para atender a dois conceitos de andamento nocturnos, que me são particularmente ternos: o Lux e o Clube Kitten.

Fiquei triste por saber que dia 25 de Abril o Clube Kitten@Lux volta ao seu esplendor, justamente numa data que eu vou estar a dar uma de búzio, nessa amada terra distante. Será por uma boa causa. Acho que me vou conseguir perdoar.

Ontem, foi mais uma noite de aeroporto. Confesso que estou muito chegado aquela gente, conjunto de alienados e cavalos de corrida. E ainda mais aquelas lindas mulheres. Por momentos preferia ter uma vida mais fútil, como alguém ligado à aviação e aeroportos. É vida dura, mais tem muito glamour e mais-valias interessantes. É a vida… Não se pode ter tudo.

Parte II – Base logística

Naturalmente que eu não gosto de deixar muitos imbróglios pendentes ou assuntos suspensos antes de ir de férias ou viajar. Trata-se de uma questão de leveza de espirito, que nos permite usufruir da nobre sensação, de que se não regressarmos, por algum motivo funesto ou até por opção radical de vida, nada ficaria por dizer ou fazer.

É uma questão de não deixar pontos sem nós, pontas soltas ou pontos nos is. É gratificante poder sentir essa liberdade segura de que deixamos tudo tratado, e as coisas não vão parar na nossa ausência, ou pelo menos nenhuma catástrofe emocional ou pessoal vai estar à nossa espera se voltarmos.

Contudo desta vez a expedição será longa e temo que vou deixar para trás alguns assuntos num limbo nada aconselhável. Estou a tentar, mas não me vejo com muito discernimento ou forças para isso, e os dias que me faltam não seriam suficientes.
Desta vez a ausência será também uma fuga ao meu próprio encontro, num grito de cisne enlouquecido. Retemperando forças e alegrias, abstraindo dos problemas, pausando um pouco. Para depois voltar. Mesmo assim quero deixar uma base logística sólida, ou pelo menos que se aguente de pé…

Como se o forcado se levantasse do chão poeirento da arena, sacudisse o pó e limpasse o sangue da cara e do colete. Ainda atordoado, leva a mão à cabeça e ajeita mais uma vez o barrete verde. A faena segue dentro de momentos e há que tentar mais uma pega daquele touro negro de 550 kg. É essa a honra de pegar de caras o touro. A perseverança e coragem.

“ehhhhhhhhhhh toro! Eh, toro, toro!!!”

A impaciência é sempre inimiga da sabedoria. Eu diria mesmo que é inimiga de qualquer equilíbrio mental ou emocional.
Sempre fui demasiado ansioso e sôfrego, mas a vida deu-me um par de lições ingratas mas profundas.

Uma em particular rendeu-me uma morte eminente, em que tive consciência plena que não teria grandes possibilidades de sobrevivência. Estava perante a morte certa, mas soube encarar a besta do pânico e não cedi. Na plenitude da aceitação da Inevitabilidade, na serenidade lógica, e na paz que fiz comigo e com o mundo, sem ânsias, deu-se o milagre. Sobrevivi contra todas as hipóteses matemáticas, que envolviam o tempo, a distância, os danos irreversíveis, os estados de choque, que os médicos equacionaram. Mas afinal esqueceram-se das variável fundamentais: a fé e vontade.

Nada desde então me deu mais provas que a nossa vontade pode ser grande, mas não deve ser uma birra de criança mas sim a perseverança de um idoso. O equilíbrio como inimigo da impaciência. A Vontade sobre o Caos. Existir ou Viver
Sei que muitas vezes relaxo a minha guarda e esqueço a minha bóia de salvação. Hoje mais que nunca a impaciência pode ser a minha maior inimiga.

Mas mais uma vez não me vou deixar morrer.

Corpo trémulo e ansioso
Espartilhado pelas decisçes
Temo as mesmas ilusões
Quando sussurras carícias doces.
Torturas-me!

Espírito retorcido pela tua força
Esmagado pela tua sedução,
Sou mero tapete de emoção
Que pisas sem piedade.
Endoideces-me!

Crucifica-me antes em paixão
Queima-me na fogueira sem perdão
Devora-me com ânsia o coração

Mas não me possuas,
Sem eu te possuir
Nem me escravizes,
Sem eu te escravizar
Nas chamas de um amor
Efêmero ou eterno.

Anjo Negro,
Tortura o doido,
Mas solta tuas algemas.
Foge da tua jaula.
Escapa do inferno.
Agarra-me como eu te agarro.
Sonha-me como eu te sonho.
Mas não me esmagues
Não me espartilhes
Como o teu desejo.
Crava as tuas garras
E arranca a minha pele
Bebe meu sangue
Devora o meu corpo
Comunga o meu espírito
Sacia-te da minha alma
E liberta-te da escuridão
De corações abertos
Subiremos juntos
Aos céus.

Noites em que eu queimei o resto dos meus neurónios

Parte I – Algumas providências cautelares

Foi durante a noite que nasci, foi durante a noite que renasci, e sempre foi durante a noite que me reconheço. Quem me conhece sabe que sempre fui capaz de estar desperto uma noite inteira, muito embora pouco depois, pelo raiar da madrugada e da luz dos primeiros raios de Sol, o espirito fica feliz mas adormece.

Estas últimas noites de fim de semana foram longas e estranhas. Porém muito reveladoras. Foram embebidas em revisões e revivalismos, longos jantares, mas felizmente pouco álcool (ou bem menos do que é costume). S. apesar de trabalhar depois de jantar quis estar comigo, cúmplice.

Justamente porque a vida quase nunca nos oferece nada de bandeja, é vulgar desconfiar de certos presentes. Não que estes possam ser envenenados, mas sim porque como já diz o ditado: “Quando a esmola é muita, o pobre desconfia“. S. seduz, mas não se deixa seduzir facilmente. É como uma selva africana: pode ser explorada, mas nunca domada, senão morre.

Posso estar baralhado e confuso. I. mostra sinais ambíguos, como se num momento quisesse que eu lhe fizesse a corte, como noutro mostrando-se enfastiada. Não necessito desses jogos imberbes de sedução. Não neste momento. Não na minha falta de discernimento actual.

Por isso deixo as portas abertas. Mesmo que a sensibilidade de C. mostre o seu desalento e ciúme. Nada me pode agrilhoar, neste momento. Não o posso deixar. Não posso me dar a esse luxo, mesmo que tenha que sofrer perdas graves. Por isso a minha solução é uma providência cautelar, um time out providencial neste momento.

As malas têm que ser feitas para os 17 dias e noites em que em que eu queimei o resto dos meus neurónios.

A contagem decrescente começou.

Loucura

Sou do fado
Como sei
Vivo um poema cantado
De um fado que eu inventei
A falar
Não posso dar-me
Mas ponho a alma a cantar
E as almas sabem escutar-me

Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raíz
Da vida que nos juntou
E se vocês não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou

Nesta voz tão dolorida
É culpa de todos vós
Poetas da minha vida
A loucura, ouço dizer
Mas bendita esta loucura de cantar e sofrer

Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raíz
Da vida que nos juntou
E se vocês não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou

E se vocês não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou

Fado interpretado por Mariza com letra de Júlio de Sousa

Adiar decisões é um defeito que me é apontado muitas vezes. Concordo inteiramente que muitas vezes não sou capaz de bater com o murro na mesa e impor uma vontade ou um desejo, optando e fazendo um escolha.
É sempre mais simples a adiar a decisão e congelar no tempo uma via, um caminho, para mais tarde o seguir.

No culminar de tempestades e bonanças que me rodeiam nestes últimos dois meses, fiquei perante demasiadas encruzilhadas para que o meu espirito indeciso e medroso se pudesse decidir por uma direcção a tomar. É como apanhar um taxi e tentar seguir do ponto A ao ponto B de uma grande metrópole, sem mapa ou indicação do destino.

Agora imaginem que não sei sequer qual o ponto para que me quero dirigir: podia ser também o ponto C, o D e também E.
Perdido é a palavra correcta para identificar onde estou, e para onde não sei se quero ir. Um dilema mórbido, repleto de pontos de interrogação, enquanto o taxista irado deixa o táximetro a contar, olhando-me de esguelha.

Neste momento estou num limbo. Ou talvez o desejasse estar. Sem a ampulheta a contar os grãos de areas que se esgotam, motivo preocupações e decisões apressadas.
Estaria no quarto vermelho, na esfera paralela dos medos de Twin Peaks, expiando as minhas magoas e paixões, soluçando sem parar e apenas aguardando o momento que o Bob Psicótico me libertasse.

– O meu braço direito fazia-me pecar e por isso peguei num machado e o cortei. – dir-me-ia.

Depois o anão segredaria-me ao ouvido:
– Mednerp et sale merdup es. Marepse e It de meir arara a e onacut o. Arap oan eugnas o sam oaratse satrela. Sahlocse sa ut que rarepse oav oan sale.

Num limbo até que tudo entrasse nos eixos e eu regressasse pleno de energia e alegria na alma.

Hoje tive um sonho muito estranho. Sonhei que S. tinha um blog, logo ela que apenas vive da sua pacatez muito espiritualista e misteriosa, longe das teknologias.
No sonho, S. revelava-me o endereço do seu blog, e foi logo visita-lo. Mas por incrível que pareça o meu browser não conseguia reter o bookmark e eu não conseguia decorar a URL.
Lí avidamente as entradas de um site muito minimalista, mas contendo um flash onde dois enxames de minusculos pixels negros em espiral colidiam e se separavam, como se fossem duas galáxias sempre em movimento paralelo. Eu estava demasiado entusiasmado para perceber o que continha, ou talvez estupidificado com o sorriso lindo e matreiro que S. me tentava ao meu lado.
Estava estasiado, mas também nervoso por ter receio de depois não conseguir voltar a ler o seu blog. E assim acabou, com S. sorrindo languidamente para mim.

É sem duvida um sonho muito neo-Freudiano, e talvez a sua interpretação seja muito simples. Talvez não.