Agosto 2005

Já não é recente a minha aventura marítima. Contudo não posso esquecer a manhã em que me iniciei no que eu supunha ser um entedioso processo de dar banho à minhoca.
Com um pequeno grupo, urbano e relativamente bem armado, fui ao encontro de uma nova experiência. Fazer algo de novo ou relativamente pouco seguro, faz-me sentir vivo e pulsante, por isso quando surgiu a hipótese de ir a uma pescaria em mar-alto num barco de pesca artesanal não podia sequer pensar recusar. O convite caiu-me no colo durante um fim-de-semana bastante animado, através do inspector P. E da sua trupe.

A medo lá acordei cedo e na companhia do Inspector D. lá me fiz a estrada meio a contra-gosto. A ideia de navegar numa casca-de-noz motorizada não me parecia muito convincente. Pior ainda, as minhas ideias pré-concebidas acerca da arte pescatória, ou dos pescadores de taínhas, não auguravam nada de compensador.

Perante a luz de um Sol a despontar, chegamos ao local indicado, onde conheci duas pessoas exemplares, dois pescadores minhotos de enesima geração, dois sujeitos com a honestidade e simplicidade acolhedora. Logo fomos embarcados ainda na praia e rebocados por um tractor para o mar.

Mar límpido e calmo, envolto em bruma matinal, logo fomos surpreendidos pelo aroma do mar salgado, onde um motor mais próprio para lanchas rápidas cortou num branco de espuma e fervilhar ondulante um rasto que se perdia numa nevoa distante. Era uma sensação única, sentir o leve pinchar do barco à medida que as milhas se sucediam, e nos afastávamos para um outro universo, só conhecido dos lobos do mar e dos mestres da faina marítima.

Sem receios de enjoos, pois o mar pareceria um imenso lago senti a brisa marítima, num momentos emocionantes em que bandos de gaivotas e umas aves marinhas negras, ao estilo de fragatas levantavam voo assustadas pela nossa passagem. Senti a liberdade de uma aventura no mar, como que uma chamada ancestral (quem sabe familiar), de um retorno à imensidão do oceano. Quando paramos senti a quietude desértica do mar, num silêncio que nos permite ouvir as ondas e o saltitar frenético dos cardumes de sardinhas. Senti um aperto e uma exaltação que se sente quando nos parecemos vivos, apreciando algo que é único.

Pesquei pela primeira vez na minha vida. Retirei do mar uma cavala, com alguma angustia por matar o bicho, mas foi tão fácil puchar pela linha que não queria acreditar. De facto eles picavam tudo, até os anzóis. O inspector D. fartou-se de dar à cana e acabou por ser um recordista.

Para finalizar a manhã, um surpresa. Um bater na água ao longe repetia-se. Passou ao largo um grupo de golfinhos fazendo os seus saltos majestosos fora de água, numa frenética caça a um cardume. Foi entusiasmante de observar mesmo ao longe um grupo de golfinhos predando organizados em grupo, como fazem quando não estão enclausurados em tanques pelo homem.

Quando de regresso a terra firme, felizes pela faina fomos ainda agraciados por um jantar pago pelo nosso mestre-guia que não quiz nada em compensação por um dia de trabalho perdido. Assim é o acolhimentos das gentes generosas da Apúlia. Dá que pensar.

E depois seguiu-se a bela patuscada com o pescaria, mas isso foi outra história.

Quando o pico do calor chegou, assim como a época de incêndios, decidi tirar uns dias de férias para descanso dos meus ossos. Pretendia resolver uma data de assuntos burocráticos pendentes, mas a minha capacidade de organização e uma manifesta preguiça há muito adiada, apenas me permitiu realizar um punhado de tarefas agendadas há muito.

Uma das que me deu particular prazer, foi visitar a maninha e cunhado, conhecendo o seu rebento. Fiquei babado diga-se de passagem, mas quem não ficaria? Um sorriso lindo, pacifica de natureza, L., é a menina dos papas babados. Além da petiza, outra novidade era a nova casa, bem na baixa da minha cidade. Vista para os paços do concelho, em plena rua feliz. A baixa que está deserta durante a noite, acaba por ser um local aprazível. E se não fossem os ratos alados que invadem tudo e os gatos atrevidos, tudo pareceria como que se estivéssemos algures numa cidade verdadeiramente cosmopolita. Ao contrario das grandes cidades lusitanas, as pessoas de países bem organizados vivem nas próprias grandes cidades e não apenas na sua periferia.

Fiquei abismado com o trabalho de arquitectura e bom gosto, que a casa contém, assim como a inquilina do rés-do-chão, talvez a última pessoa que imaginaria encontrar nessa noite. Havia ali um je ne sais pas de Artes em Partes, e Maus Hábitos que me agradaram , pelo conforto e open air.

Os assuntos do Passado vieram em conversa corriqueira, mas agora mais nos aspecto saudosistas. O tempo acaba por acabar a frustração e revolta, para dar espaço apenas às boas memórias que valem a pena recordar. É bom reatar laços de amizade.

Rezam as lendas, que numa longínqua semana, vários cavaleiros da ordem do garfo e faca se sentaram á mesa, para um frugal repasto de fim de Julho.
Gratos pelo cair da noite na feira, o ar quente tornou-se suportável. Longas foram as conversas da nobre cortes, onde um porco bravo com castanhas deliciou os convivas.

Correu célere o delicioso vinho tinto, servido em canecas de barro, escorrendo pelas gargantas sempre secas dos convivas. Serenos e alegres deliciaram-se e alegraram-se na noite. Terminada a farta refeição, logo os cavaleiro partiram em demanda. Buscavam no meio da multidão, algum artigo por entre as tendas dos artificies que pudessem levar para os seus solares.

Mas eis que esta pequena aventura, rapidamente se tornou numa epopeia digna de ser cantada por todas os seríes de jograis por este reino fora. Os quatro cavaleiros mais bravos deparam-se inesperadamente com uma tenda com um precioso tesouro escondido iria maravilhar os seus olhos e gargantas. Tratava-se de um nêctar, uma ambrósia divina servida em pequenos copos esculpidos em madeira chamada Ginjinha.

Tratava-se de Ginjinha de óbidos, com um maravilhoso paladar a canela, como que irresistível ao palato mais exigente. Depois as lendas começam a divergir. Conta-se que dois cavaleiro se entusiasmaram tanto que tiveram como montada, uma linda burra chamada Luana. Conta-se também que os escudeiros que traziam a Luana graciosamente ajudaram a que a deliciosa ginjinha começasse lentamente a desaparecer das pipas. Conta-se também que os cavaleiros ao se verem confrontados por uma câmara de reportagem e ao saberem que se tratava da TVI se recusaram determinantemente a serem entrevistados por tão medíocre meio de informação.

Longa foi a noite e ainda amanhecia, quando exaustos, os cavaleiros prometeram não esquecer aqueles momentos medievais.

Todas essas cinzas que esvoaçam, queimam-me a alma. Tudo arde, tudo está queimado.
Parece que nada vai restar depois de o fumo passar, a não ser o negro onde estava o verde.

luna roja
y en la radio la precisa melodía
proyecta tus arpegios endiablados
viejo Jim Morrison
arqueas la cintura
la sensualidad de tus labios
y entre filtros de peyote
y vasos de aguardiente
te diriges peligrosamente
hacia el fin
– enciendes el cigarro
alzas la copa de vino
y brindas por ti, por Blake
Artaud, tus oscuros fantasmas –
la mirada extraviada
el seco gemido
nadie entiende el descarnado alarido
que parte el cielo en pedazos
la muerte traidora danzando
sobre tu cuerpo
la soledad desnuda en medio del escenario
el baile indio

el suicidio anunciado

entregando en cada concierto
tu más rotunda agonía
rey de los lagartos.