Maio 2006

No interregno das emoções fortes, foi-me necessária uma pequena barbárie masculina do campo futebolístico. O verdadeiramente glorioso tentava a dobradinha, e colocou-se em cima da mesa a possibilidade de ir numa comandita de adeptos ferrenhos até ao estádio do Jamor.

Ver o desporto das massas nunca me fez pulsar de emoção por aí além, mas devo reconhecer que assistir a uma partida de futebol do nosso clube de eleição dá muito adrenalina e eu gosto de todo o teatro envolvente, todo o cerimonial clubístico e da clubite de massas dentro dos domínios da civilidade. Ela ainda existe mas não vem como é obvio nas notícias que só se interessam por revaches asininas e histerismos de violência nos estádios ou de animais, que por sinal vi ao vivo pela primeira vez.

E eis que o comando de torcedores se organiza, muito embora duas desistências de última hora tenham comprometido bastante a organização e em particular o orçamento. Um comando formado por sete indomaveis, munidos de uma carrinha de transporte se faz à estrada na madrugada de domingo. Eu era dos poucos que não fazia parte das forças policiais, onde inspectores e sargentos à paisana se faziam à grande cidade.

O inspector P tomou o volante, e para bem dizer, com bastante sucesso até uma malfada subida da CREL, onde as últimas gotas de gasóleo se evaporaram e nos deixaram a penantes. Só faltou o garrafão de 5 L de praxe para nos disfarçarmos do verdadeiro rancho do piquenique portuga enquanto esperávamos contrafeitos pelo providencial auxílio da Brisa com o seu bidãozinho de 28 €.

Desfeito o contratempo, rumamos a um almoço pantagruélico, à antiga portuguesa no Forcado de Loures, com a tradição cretina em que os aniversariantes beijam uma cabeça de touro empalhada ao som da zarzuela tauromáquica, mas em que as entradas são de ir até às lágrimas. Regados e de estômago cheio, seguimos para o Jamor, esse belo parque de romarias e piqueniques à séria. No caos de pó para estacionar e das correrias de última hora lá nos instalamos em plena claque setubalense do lado oposto ao mar Azul do nosso FCP.
Felizmente o ambiente de taça estava nos nossos vizinhos, que após o jogo nos cumprimentaram com excelente fair-play. E a dobradinha foi nossa muito embora o local fosse tão mau que nem deu para apreciar o jogo… mas a festa sim.

E a quinta dobradinha do FCP foi a minha primeira e muito provavelmente ultima ida ao Jamor, pois não posso imaginar-me outra vez a levar com duas horas para sair do mar de pó onde a carrinha estava engarrafada. Valeu a companhia e a escolta policial e o facto de o Cavaco ter entregue o caneco. C´um caneco!

Ao observa-la a dormir, sentia sua serenidade e beleza amena. Não se sentia mais só, e lutava para não a despertar com beijos, fazendo uma vigília de deleite. Ela ali a seu lado, frágil mas protegida, enroscada em seus braços, sentindo a sua respiração quente e profunda, o pulsar do seu coração tão próximo era um quadro petrificante de emoção e êxtase. Talvez não merecesse ser tão feliz naquele momento tão íntimo com uma mulher tão deliciosa.
A sua mente cavalgava pensamentos de ternura e felicidade, trotando sem resquicios de sono na luz do amanhecer que furava através das janelas do quarto. Desejava que a manhã não avançasse até ao momento do acordar em que se separariam rumo a um quotidiano diário que agora significava um ciclo de separação insuportável até à próxima noite. Queria que a noite fosse eterna, uma noite sem fim dos amantes.

Sonhos Urbanos

Os sinos dobram em ocasiões especiais. Hoje ouço carrilhões que tocam intensas e vibrantes melodias. Meu espírito vibra ao som de pesados badalos que fazem o bronze do minha alma tremer, abalando toda a estrutura do meu ser e deixando todas as fibras do meu corpo ultra-leves.

É bom aprender em qualquer idade. Torna-nos mais jovens e joviais a capacidade de ter lições, repensar a nossa sabedoria ou até por em causa algumas ideias pré-concebidas.

Actualmente abriu-se no meu horizonte mundano, uma miríade de novas lições de vida, de perspectivas inovadoras para abordar velhos problemas, e até a oportunidade de fazer cair por terra velhos dogmas. É uma lufada de ar fresco sentir que os meus neurónios estão capazes de refazerem as suas ligações e abraçarem toda uma nova filosofia.

Pode até parecer um paradoxo, mas muitos episódios na vida actuam como rupturas epistemológicas em que vemos um luz na gruta escura e apercebemo-nos de toda uma nova realidade, que sempre esteve ali ao nosso alcance, mas que não éramos capazes de entender.

Surgiram novos axiomas, graças a um conjunto de novas vivências, em que se questiona e certamente se aceitam novas hipóteses e teses.

Presumo que nunca é tarde … nem para aprender, nem para viver. E isso porque viver é sempre uma constante batalha rumo à vitória e que nunca se perde uma guerra.


Não se poderia desejar mais nada. Nada, pois a perfeição estava ali.

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.