Setembro 2006

Comemorar três décadas exige alguma ginástica mental. Não é apenas a questão do simbolismo do número redondo, mas sim porque se congemina a ideia frequentemente errada que depois dos vinte é necessário assentar. Puro erro dos mais envelhecidos da mente.

A maninha decidiu e bem comemorar num ambiente muito peculiar: no maior centro de actividades radicais da Europa. Num belo calor de Setembro, um fim-de-semana agitado a carburar cartuchos energéticos que eu não conhecia em mim sigo para as montanhas a norte, junto com a minha
Purpurina
para festejarmos as três décadas da maninha, não sabendo exactamente o que nos esperava na casa da família.

Logo a companhia se avizinhou perfeita, com crianças alegrando o ambiente de trintões, num chalé de madeira num monte perfeito. Mas a adrenalina era o nosso objectivo e lembrando-me do anjo sem asas quis experimentar um dos maiores slides da Europa. Foi uma experiência rápida e estimulante deslizando suspenso por um arnês montanha abaixo, parando quase para lá de onde a vista alcançava. A doce adrenalina é a mais potente de todas as drogas e que nos rejuvenesce e enrijece em dois tempos.
Mas mais adrenalina foi o curto percuso num valente UMM subindo a colina quase no mesmo tempo que demorou a deslizar… algo de verdadeiramente radical.

Confraternizando e soprando as velinhas estivemos cultivando a companhia e amizade, a aventura e as brincadeiras coloquiais, num par de dias excelentes, daqueles que alguem se atreveu a dizer que tinham sido dos melhores dias da sua vida.

Mas extremamente radical e de primeiríssima apanha foi a travessia de 38 pontes suspensas, estilo Indiana Jones, que um grupo restrito se aventurou ao longe de duas extenuantes horas e onde as vertigens eram o pão-nosso de cada segundo, mas que deram um extremo prazer de atingir e superar os obstáculos, um após o outro, sentido que por dentro também seria possível superar objectivos complicados, apenas às custas da força de vontade: mais que uma prova física era uma prova mental – os medos vencem-se a punho, as conquistas vencem-se a suor, basta que a nossa mente queira mesmo superar todas as barreiras.

E exultante após longa travessia suspensa ganhei o direito a um dos mais saborosos cabritos assados da minha vida, envolto em amizade e companheirismo.

imagem de Buda Shakyamuni

Agora prepare-se para meditar um pouco
Está é a sua sala de meditação na web. Por favor simplesmente observe a imagem de Buda Shakyamuni. Não se force e fique apenas o tempo confortável. Esta forma de meditação acalma a mente e por ser feita observando uma imagem de Buda é ainda mais poderosa.


O matrimónio pode até já não ser uma instituição sagrada, mas o seu simbolismo tradicional pode ser belo, em especial se os noivos comungarem de um amor genuíno. O casamento do D. foi extraordinariamente belo, requintado e espero que marque um inicio muito especial para um casal tão bonito.
Comi e bebi do melhor e dancei como nunca tinha dançado com a menina do belo vestido cor-de-rosa.

Numa ocasião única voltei ao Coliseu da minha cidade para admirar a belíssima música de Marisa Monte. Com a leoa, a maninha e o cunhado, devidamente instalados nuns belos lugares, mesmo com um acesso de febre misteriosa pude apreciar um dos mais belos concertos a que já assisti, não só pela beleza melódica, mas também pela estética do espectáculo.

Eu apreciei muito os trabalhos “Universo ao Meu Redor” e “Infinito Particular” da Marisa Monte e perder o tour “Universo Particular” na minha cidade ia ser indesculpável. A cantora é de facto uma musa da música brasileira e a sua ausência dos palcos para abraçar a maternidade desde os Tribalistas veio realçar a sua genialidade sincera.

A forma sóbria mas particularmente bela com que o espectáculo começa dá um carisma extra à música já de si profunda e melodiosa. O palco estava montado como um pequeno altar onde a santa altaneira era circundada a níveis inferiores pelos anjos-músicos, dando um forte impacto mas simultaneamente parecendo de um enorme equilíbrio.

As música sucediam-se, carregadas do bom gosto da interprete e compositora é acompanhada por painéis luminosos e outros efeitos simples e harmoniosos. Mais que a música que eu adoro, este concerto ficou-me não só no ouvido como na retina devido à sua beleza, que só pecou pelo excesso de profissionalismo da Marisa.

No ano que se completavam trinta edições, decidi-me a uma aventura política por cores que não são as minhas e ver pelos meus olhos a maior festa politizada em Portugal. Rumo a grande cidade e passando a grande ponte parecida com as notas de quinhentos, ladeado pela
Purpurina
e amigas e pelo fiel companheiro de armas.

Após o reboliço de acertar com o trajecto e arranjar o livre acesso a tenda num extenso aglomerado de cogumelos de pano que dava para perder de vista, eu, vosso excelentíssimo comentador de façanhas mais ou menos banais, dei-me por mim em plena festa da Quinta da Atalaia, qual pára-quedista ou agente infiltrado no covil do lobo. Dez minutos bastaram para perceber que a festa do Jornal do Avante! está revestida de um carisma excepcional, onde parece que uma espécie de bolha revivalista está isolada do resto da realidade. Trata-se de assistir a uma zona livre de fast food e quase todas as formas capitalismo imperialista, e onde velhos e novos se atropelam de forma civilizada perante uma poderosa e bem oleada máquina de militantes voluntários que fazem a festa existir. O proverbial e lendário poder organizativo do PCP, provavelmente o mais poderoso exemplar em vias de extinção na Europa do comunismo marxista-leninista, deixou-me espantado. Como num belo exemplo idílico de socialismo, o proletariado organizava-se de forma a executar problemas complexos de organização com a máxima eficiência.

Mas mais que as questões de desempenho e de coloração militante existia a festa em si: um ambiente de genuína fraternidade como nunca presenciei, e que me senti privilegiado em sentir na pele tal alegria de grupo.

Calor e falta de banhos à parte, assim como um arrufo empolado, a festa do Avante mostrou-me uma miríade de sentimentos diferentes e de que eu não estava a espera, como naquelas experiências que se devem recomendar a gregos e troianos. Foi sexta a domingo em grande, acelerador a fundo, saltando ao som da Carvalhesa, tentando adormecer na tenda debaixo de gritos da Elsa, provando os Mojitos, descansando à sombra, passeando ao Sol e deliciando-me com o Sérgio. Para o ano há mais camaradas! E espero que seja com os mesmos camaradas.

O tempo tem escasseado para martelar no teclado, mas tal não significa que a ausência de palavras seja sinal de ausência de momentos que perdurarão na memória. O aniversário da princesa teve um significado importante para mim, não só pela festa magnífica que foi, tão repleta de convívio e amizades de todos os quadrantes, mas também por me colocar na minha praia perante tantas mudanças boas na minha vida.

Há situações que nos marcam, e por vezes os momentos mais singelos fazem-nos perceber o quanto o destino pode dar cambalhotas e tornar um mundo cinzento num explosão de cores Robbialac. Naquela tarde pude constatar no meio de uma casa cheia que definitivamente o meu mundo teve uma mutação carregada de felicidade e amor.

Para que a noite acabasse, especial como a tarde que a antecedera, só ouvir o «Just like Heaven» dos Cure no recanto revivalista chamado Bateaux, encantado pela beleza principesca. E depois no final aquele toque tão especial de aventura, tão divertida e ao mesmo tempo simbólica num local tão estranho. Especial.