Janeiro 2016

O bandido solitário tem no crime o coração
Traz do roubo o seu salário
Paga caro a paixão.

O bandido solitário tem uma bala no canhão
Vai metê-la no diabo
Já deitado no caixão.

O bandido solitário tem a fúria de um cão
E anda às voltas pelas ruas
Com a alma pela mão.

O bandido solitário só faz folga para foder,
Escolhe sempre as mais feias,
Gosta de beijar sem ver.

E a mulher que o quiser tem de ouvir esta canção,
E a mulher que o quiser,
Farto peito, grande língua, anos de bailado e natação.

Foi um dia apanhado a roubar uma espanhola,
Ficou tudo admirado
E tiraram-lhe a pistola.

E a pistola era tola, só servia para espirrar,
Carregando numa mola
Não servia para matar.

E a mulher que o quiser tem de ir para a prisão,
E a mulher que o quiser,
Farto peito, grande língua, anos de bailado e natação.

E a mulher que o quiser tem de ir para a prisão,
A mulher que o quiser,
Farto peito, grande língua, anos de bailado e natação.

Música de Mundo Cão
Letra de Valter Hugo Mãe

A simplicidade de um dia passado entre quatro paredes, quando lá fora o frio e chuva invernais costumavam ser sinónimo de tédio absoluto. Hoje no entanto passou a ser sinónimo de amor e alegria, tudo graças aos meus dois rebentos e à minha delicada cara-metade.

Na impossibilidade temporária de correr, o meu desporto favorito, vejo-me forçado a procurar alguma forma de queimar calorias. Fazer piscinas é algo em o que custa realmente é começar. Chegar até a pista olhar para aquele espaço azul que estará só ligeiramente tépido com touca, óculos de marciano e calções justinhos é no mínimo tedioso.

A Natação é solitária e profundamente centrada em nós mesmos. O azul fundo da piscina que braçada após braçada se vai lentamente movendo, para retornar mais outra vez na mesma direção não podia ser mais aborrecido. Porém entre umas boas dezenas de braçadas e quando as piscinas efectuadas se vão acumulando e a respiração começa a ser sincopada com os movimentos dos braços e pernas há uma faísca na mente.

A pouco e pouco no meio do exercício as paredes e o chão azul deixam de lá estar e só se segue o risco azul escuro (não se vá bater quando este terminar com a cabeça no fim da piscina! ) – e passamos a um estado que eu considero ser muito próximo da meditação. Como nas longas corridas, deixamos lentamente mas inexoravelmente de sermos um corpo em exercício físico, para sermos uma mente que se esvazia de pensamentos, que se liberta das preocupações e pesos. O corpo e a mente começam a libertarem-se em ritmo e sem esforço deixam de pensar para serem totalmente leves. Braçada a braçada, assim como passada a passada na corrida, temos o nosso momento de zen. E depois a exaustão obriga-nos a parar.

Quando termino, cansado mas leve tenho as mesmas sensações daquelas corridas ao Sol de mais de uma hora. Que saudades.

Nos últimos anos tenho aumentado o meu interesse pelo desporto das massas. O novo ópio do povo, ou se preferirem o futebol, acaba por nos apanhar como uma espécie de polvo.

Para onde quer que vamos, qualquer jornal que abrimos, qualquer noticiário que vemos na TV, somos bombardeados com informação irrelevante acerca  do futebol nacional e internacional, debates semanais acerca de clubites entre os três grandes.

Se por um lado estou meio farto de todo esse futebol, não deixo de deixar apaixonado pelo meu clube de eleição, o FCP.  Este infelizmente atravessa um mau momento, depois de uma época intensamente dourada, deixou-se cair em mares mais revoltos. A incapacidade de um treinador hoje deu-me mais um desgosto, porém não será por isso que vou abandonar o meu amor. Só não quero é ouvir falar em futebol até ao carnaval…

Há bandas que envelhecem mal. Como um vinho verde que se deixa pasar uns anos e se transforma em algo turvo e avinagrado. Os Nirvana foi uma das minhas bandas prediletas (logo que o seu álbum «Nevermind» chegou a Portugal corri logo a comprar um CD no longínquo ano 1991) e é disso exemplo – o grunge não resistiu bem ao passar das modas e ecoa muito mal passado estes anos todos… Porém a música e o video clip de Smell like teen Spirit ainda hoje me fazem as tripas entrarem em ebulição e o coração a bombar a um passo de desatar ao saltos como quando tinha 18 anos.

Via o seu sorriso rasgado de satisfação enquanto tinha a sua aula de bateria, e como pai fiquei de coração cheio.

A minha filhota surpreendeu-me com uma súbita paixão por um instrumento tão invulgar para meninas. De tenra idade foi ele que tratou da inscrição e averiguar na possibilidades de horas para que pudesse ter aulas de bateria. Então foi apreciar uma aula dela, após um pedido irrecusável da jovem aprendiz – em apenas meia hora apanhado todas as batidas da nova música dos Coldplay fiquei totalmente enternecido.

Por um lado tenho a sensação que minha filha cresce rapidamente que temo perder a minha linda princesa. A sua paixão pela bateria alegra-me mais por ser capaz de criar interesses novos por sua própria iniciativa, por tentar ser autónoma e seguir os seus interesses.

Ontem foi um dia que terminou sob o auspicio da saudade e de velhas amizades. E regado a Number Ten no seu final como recordando algumas façanhas menos honrosas de grande apreciador de gin tónico.

O meu maninho veio fazer as suas férias de Natal da sua grande aventura africana e junto com o meu colega da faculdade G., jantamos ao som do futebol. Uma francesinha típica da nossa cidade com o cenário da derrota do verdadeiramente glorioso frente ao Sporting que estimulou um ar de desilusão. Porém esse desaire em casa do adversário não foi o suficiente para ensombrar uma noite de reencontros e de por a conversa em dia enquanto sorviamos as Sagres de lei.

Velhos amigos e veteranos de guerras académicas e afins recordamos episódios caricatos e memoráveis sentido a saudade de uma juventude física que já não temos, mas sabemos que os nossos ossos não são o estigma do nosso envelhecimento. As nossas mentes são bem abertas e do futebol à política mostramos a nossa abertura a jovens ideias e ideais. As questões existenciais, a paternidade, os planos de futuro polvilharam a conversa deste terno de jovens que se recordaram dos tempos idos com encanto e humor. Os ossos podem estar mais perros mas as mentes estão ainda afiadas. Pena que a noite se esfumou tão depressa.

Se há algo que eu não aprecio é a organização metódica, apesar de lhe reconhecer a imperiosa necessidade. Sou desorganizado por essência, ou melhor a minha forma mais eficaz de arquivo de documentos é o método do vulcão onde um maço de papeis se amontoa à semelhança de uma chaminé de um vulcão em que no centro  estão os documentos mais recentes e importantes ao passo que à medida que nos afastamos do centro as coisas arrefecem…

Por isso participar num processo de inventário para mim é algo de tremendamente aborrecido e contra natura  e está na minha lista de interesses logo a seguir a ver uma reality show da TVI durante quatro horas seguidas. A minha mente desorganizada não alinha muito bem com essas tarefas organizativas e nada como ressacar o inicio do ano com contagens maçadoras e repetitivas. Felizmente há que dizê-lo este ano não me afetou particularmente, pois há sempre a bonança que se segue a estas pequenas tempestades.

Começa o ano, comem-se as passas e fazem-se os desejos para os próximos 365 dias. É assim a tradição.

Este ano fiz os meus desejos só depois de agradecer a bênção de estar vivo e de saúde, rodeado de uma família que amo muito. Que mais pode um homem desejar para ser feliz?

Já no primeiro dia do ano enquanto adormecia o meu diabrete mais novo, com o estômago a latejar de um almoço muito substancial e com os doces como mandam as regras, dei por mim a pensar que  não necessito de mais nada para ser feliz. Para além da espuma dos dias, da rotina diária que nos escraviza existem esses elementos mais importantes que tudo o resto.

O amor incondicional que nos enche o coração, a partilha da nossa breve estadia no terceiro calhau a contar do Sol, a paixão, o saborear e o desfrute da vida, alheio aos medos mundanos e das intermitências da vida é o que nos faz verdadeiramente felizes. Por isso este ano preferi ser grato e apenas desejar ser capaz de fazer que os que me rodeiam  sejam felizes.