Agosto 2003

O gostinho da vida, passa pelas pequenas surpresas que se nos deparam ao virar de cada esquina. Sexta era já palco de um main event do ano, com um delicioso jantar à vista do Minho. Naturalmente perdemos as estribeiras num sufoco em que se enterra sem remorço uma semana árdua de trabalho. Um repasto soberbo que justificou a longa quilometragem.

Mas como o destino nos era favorável nada como a vibrante surpresa que nos esperava: DJ Kitten fazia a sua aparição por aquelas bandas!
Agradecidos a tão grande benesse e capricho do destino, pusemos o pé no acelerador para desfrutar a máximo esta feliz coincidência, muito para lá do que a prudência seria capaz de permitir. Uma noite mesmo memorável e irrepetivel, vibrante apesar de algumas brancas…

As despedidas são difíceis. A dificuldade de meter uma desejada pedra no assunto para que aquela situação penosa não se arraste funde-se com a sensação de perda que queremos recusar.

Ontem fui-me despedir do astrólogo inglês, numa noite tórrida, numa esplanada repleta de turistas. De certa forma tendo a tornar-me emotivo demais no que toca a dizer adeus seja a quem for, e tendo em conta que o considero um amigo que tem tido alguns infortúnios senti-me ainda mais com um aperto no coração.
Definitivamente odeio despedidas, não só pela sua significância de partida, de rotura e descontinuidade, mas também pelo embaraço. Não há despedidas alegres, apenas existem despedidas menos dramáticas, onde implicitamente se tenta contornar algum desalento e tristeza com alguma força de vontade.

Mas apesar de dolorosas, todas as despedidas são necessárias pois sustentam a nossa evolução e marcam uma espécie de sombrio enterro que nos ajuda a formar resistência e vontade de seguir novas aventuras. São o necessário marco para interiorizar uma nova ausência física ou metafísica, um reorganizar de sentimentos.
Mas ficará sempre a saudade.

Pior que ser acossado de um intenso fervilhar de acções não executadas, na apatia de uma certa preguiça social, é ver os nossos pequenos passatempos da vida a fugirem-nos por entre os dedos.

Aprecio a calma e o retiro em dosagens controladas, desde que dê para escutar o meu pensamento, fugindo àquele barulho do dia-a-dia que não nos deixa ouvir a voz que há em nós. É no silêncio que a velocidade do nosso pensamento flui naturalmente, sem barreiras e ruídos abstraindo-se da azáfama e encontrando a passagem entre corpo e alma.

Um dos passatempos que me foge pelos dedos são os preciosos passeios de bicicleta ao entardecer, num misto trajecto de todo-terreno enlameado e um giro pelo calçadão da terrinha. Infelizmente a minha velha companheira azul ficou temporariamente manca, quando a corrente deixou de correr e se partiu. Onde vou arranjar um garagista agora?

Casa sem Internet, sem televisão, apenas eu, os meus livros e os meus botões.

Motherfuckers wanna get with me. Lay with me. Love with me. All- right.
Motherfuckers wanna get with me. Lay with me. Love with me. All- right.
Motherfuckers wanna get with me. Lay with me. Love with me. All- right.
Motherfuckers wanna get with me. Lay with me. Love with me. All- right.

Motherfuckers wanna get with me. Lay with me. Love with me. All- right.
Motherfuckers wanna get with me. Lay with me. Love with me. All- right.
Motherfuckers wanna get with me. Lay with me. Love with me. All- right.
Motherfuckers wanna get with me. Lay with me. Love with me. All- right.
a DIVA
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.

You know it.
You love it.
You got it.
You want it.
You know it.
You love it.
You got it.
You know it.
You love it.
You want it.
You got it.
You know it.
You love it.
You got it.

Motherfuckers wanna get with me. Lay with me. Love with me. All- right.
Motherfuckers wanna get with me. Lay with me. Love with me. All- right.
Motherfuckers wanna get with me. Lay with me. Love with me. All- right.
Motherfuckers wanna get with me. Lay with me. Love with me. All- right.

C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.

C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.
C’mon let’s set it off.

Peaches & Kitten @celorico

Num volte de face de última hora, tudo se conjugou para que a dupla maravilha, eu e N. tratássemos de atender à chamada de mais um Kitten. Para mais-valia iríamos até um Portugal profundo para uns quantos concertos interessantes.

O festival CTB Dance sobe a égide da melhor cerveja do mundo era um destino crucial, mas revelou-se algo perturbadormente provinciano. Sem apelo nem agravo logo à chegada trataram-nos como vacas encaminhando-nos para um sector onde nos colocaram umas pulseiras com anilhas numa espécie de curral. Será que as organizações destes eventos classificam o seu publico como gado?
Creio que sim. A única tenda que me intereesava era a eletro-clash e supresa das supresas: era a mais pequena!

Rapidamente penetramos na mufla atraves de uma porta giratória pois os Ladytron já actuavam. Algo bizarro, apesar da banda ser bastante profissional aquilo era uma barulheira insuportável. Rapidamente apercebi-me que afinal não seria a banda, mas não podia acreditar que um dito festival, com budget principesco andasse a meter no dito evento colunas arrebentadas e técnicos de som rascas que só sabem afinar os baixos para o DJ XL Garcia. Foi muito sofrível. Quando acabaram apenas houve um encore tímido, e era notória a frustração dos Ladytron.

A seguir seria uma tal Peaches e decidimos ver o que se passava ao lado. A única porta giratória, demorou a ser ultrapassada na enchente e tremi só de pensar o que representava aquilo se houvesse azar. Só um Cró-Magnon seria capaz de aprovar aquilo para recinto de concertos.
Ao lado as tendas gigantescas estavam ainda obviamente às moscas, mas notava-se o mesmo efeito: o som era bastante mau.

De volta à nossa tenda para o tal concerto da Peaches. Colossal, frenético, animalesco, a mais perfeita simbiose entre e eletro e o punk, na força da Natureza encarnada numa mulher. A canadense Gonzales, que segundo algumas fontes é uma ex-prostituta, possui o público numa performance que tornaria Marilyn Manson, um palhaço para entreter meninos do coro de 9 anos.
Vestido-se tão rapidamente como se despia, saltando para o público e pedido comida, ao mesmo tempo que cantava algumas das mas emblemáticas canções eletro clash. Fiquei fã incondicional daquela artista tão exótica quanto excêntrica que fazia uso da sua sexualidade exuberante sem contudo chegar a um ponto de hard core. Um imaginário soft core (de mau gosto apenas), mas absolutamente genial. Pena é que pelo meio a Peaches tenha partido os suportes das agulhas, quando se atirou e se sentou na mesa, uma vez que os cretinos dos técnicos tinham já colocado os pratos do Kitten ali à mão de semear. Foi o ponto alto da história.

Depois o DJ Kitten aka João Vieira lá apareceu, agora com a simbologia Kellogs special K num fundo da Paramount Pictures. Depois de 20 minutos de cabos para cá e para lá, os trogloditas dos técnicos lá conseguiram que uma das colunas desse algo de jeito enquanto a outra apenas dava uns estalozitos. Ouviu-se e dançou-se o que se pode, mas era algo triste pensar que um festival com tanta nota tenha equipamento de som de terceira e uns jeitosos como técnicos. Voltei cedo, pois a distância ainda era grande e o som estava deplorável.

Pelo menos ficou o aviso:
Dia 20 de Setembro temos Club Kitten no Sá da Bandeira, e segundo fontes credíveis, Kitten vai-se fazer acompanhar por mulheres de arromba (banda, modelos???) .
Não vou faltar!

Estou envolvido num ar de Atlântico. É estranho como as praias do norte são tão assustadoramente frias, e como sou um felizardo. Não me vejo obrigado a comprar um ar condicionado para conseguir dormir nesta vaga de calor, bastando-me viver pacatamente na minha praia.
Enquanto lá no interior existe a visão ardente de Dante, estou imune, chegando mesmo a estar envolvido num nevoeiro e bruma que se poderiam denominar sebastiánicos.
Um dia ele irromperá no meio das rochas envoltas em névoa e vai tomar um fino ao Manel:

-Está um calor na mouraria! Chiça! Estou mesmo com sede! Com quem joga o Porto?

Seria decerto tão certo,
Tão acertadamente certo,
Ter um certo fraquinho
Um tão certo romance.

Seria certo e sabido,
Que certa rata-sábia,
Tão certa de si
Seria decerto alvo fácil,
Fácil de acertar
Fácil de dar certo
Com a certeza
De que não estava certo.

Seria decerto tão certo,
Tão acertadamente certo.

Lusiadas III canto

Eremita versus Adamastor

Vetei-me a uma merecida e ansiada auto-reclusão. Não se trata de um conceito asceta, ou uma espécie de mortificação de penitência. Adoro estar rodeado de gente mas neste momento da minha vida, estritamente a nível temporário necessito de uma calma absoluta, para recarregar a minha força interior.

Acredito que muito brevemente terei novos desafios importantes. É tempo de encarnar um Infante D.Henrique viajando para longe da corte e recolhendo-se na minha Sagres, para antever e planejar todo o grande desafio contra o terrível Adamastor e suportar as críticas dos velhos do Restelo.

É tempo de reformular técnicas, encontrar os mais propícios caminhos, elaborar mapas precisos e de montar toda uma empresa épica capaz de dar frutos mais tarde, um edifício robusto, com bases sólidas para suportar as adversidades que parecem tornar impossível o nosso objectivo. Os grandes investimentos demoram a dar frutos, e tal como na quimera lusitana, o que se começou agora, só deverá dar frutos num futuro distante, e para isso é preciso muita determinação, insistência e um valor e coragem a toda a prova.

Não vou defrontar o gigante monstruoso, mas sim os meus próprios monstrinhos, é necessito do carisma de um Bartolomeu Dias para transformar um Cabo das Tormentas num Cabo da Boa Esperança.