Maio 2005

Num processo de reestruturação da matriz cerebral, a alma regenera-se lentamente. Possuir a obstinação é quase sempre a forma de seguir a raiva, o lado negro da vida. É um encurtar de caminhos, onde facilmente se cai em ilusões de grandeza, onde o individualismo cego é sentido como se fosse espiritualismo.

Regenero-me lentamente, e apago a feridas dos desgostos ilusórios e da ausência de discernimento. Amadureço nas minhas convicções, mas nunca as tenho como dogmas sagrados, mas sim como um processo de iluminação.A fé é sempre importante, mas da mesma forma, a fé que liberta e dá força, a mesma também pode cegar. Cega, trás o fanatismo acéfalo do mal, como a inquisição, o medo do demo e afins típicos das seitas religiosas, ou até das principais religiões.

Tudo isso também pode ser um caminho que nos leva à perdição, por arrasto num rebanho de crentes que estavam perdidos à espera de serem salvos pelo ”guru” mais próximo.Foi nessa a ilusão onde me vi envolvido, quebrando etapas e subindo degraus inseguros. Acreditando cegamente numa luz brilhante que não era real, mas sim uma malha de mentiras. Hoje tenho plena consciência que não é construindo baralhos de cartas espirituais, que a nossa alma pode conseguir atingir uma evolução ou melhoria.

A força e a devoção não se criam sobre alicerces frágeis. É necessário perseguir o bem e a verdade, não para nós mesmos, como para os outros, passo após passo, tombo após tombo. Só assim veremos um equilíbrio que nos apresenta alguma luz. A nossa dita salvação não reside nos gurus, nem nas crenças ancestrais, meros rituais religiosos, ou produtos prêt-a-porter new wage tipo alivio rápido das dores. Somos nós que temos que descobrir essa salvação, pacientemente, amadurecendo, degrau após degrau na viagem que se chama a Vida e Amor.
Só assim podemos começar a tentar ser felizes: buscando a verdade em nós e não caindo nas ilusões fugazes ou mentiras que desejamos agarrar para que nos salvarem. Salve-se quem puder… ou souber. Parece cruel, mas não deixa de ser uma realidade intrínseca.

Buda apontou um caminho, através da meditação, do entendimento do que nós somos e na luta contra os nossos demónios internos. Jesus apontou outro caminho, salientando a bondade social, mas também evitando os pecados. São caminhos apontados, rumando à eternidade. No cerne da questão está o equilíbrio do espírito – conseguir encontrar um ponto em que não traiamos a nós mesmos, sabendo que é a verdade nos libertará, e que ela é um trilho longo e difícil, que serpenteia ao longo de uma cordilheira que se eleva até aos céus.

Os precipícios são imensos e os montanheiros menos cautelosos nunca conseguirão atingir o cume da montanha mais alta. Não devem pular de obstáculos, sobe pena de se condenarem numa queda sem fim.

Era esta a música que não me saía da cabeça

You can sleep forever, but still you will be tired
You can stay as cold as stone, but still you won’t find peace
With you I feel I’m the meek leading the blind
With you I feel I’m just spending wasting time

I’ve been waiting
I’m still waiting
I’ve been waiting
I’ve been waiting
I’ve been waiting
I’m still waiting
I’m with you (with you)
It’s always one step too far
One step too far

You can walk too far but still you won’t be found
You can look down on the world but still you won’t find love
You won’t find love

Only with mellow
Are you thin enough to slide through,
Don’t let nothin’ ride u,
If the sun or the moon would give way to doubt,
They would immediately go out.
Only one swallow doesn’t make a summer
But u gotta start somewhere

I’ve been waiting
I’m still waiting
I’ve been waiting
I’ve been waiting
I’ve been waiting
I’m still waiting
I’m with you (with you)
It’s always one step too far
One step too far

I’ve been waiting
I’m still waiting
I’ve been waiting
I’ve been waiting
I’ve been waiting
I’m still waiting
I’m with you (with you)
It’s always one step too far
One step too far

By: Faithless

As andorinhas fazem voos rasantes, verdadeiras acrobacias aéreas, de pura adrenalina entre aquelas estradas estreitas, muradas e forradas a paralelo. Descem a pique do telhado e voam vertiginosamente junto ao chão durante alguns segundos, como se quisessem surfar no veículo que passa na rua.

É como se a tradição primaveril, exactamente no mesmíssimo lugar se repercutisse por várias gerações, aprumada a cada ano em acrobacias mais ousadas e suicidas. Provavelmente o instinto da ave deve reflectir a alegria primaveril e o efémero daquele momento de exaltação.

Aqueles belos pássaros descabidamente celebram a vida correndo perigos, gozando a adrenalina e exibindo a sua eficácia de voo louco e espectacular. Vejo horrorizado as andorinhas nesse frenesim de stunt man bem próximas do meu pára-choques, quando circulo todas as tardes rumo à minha casa. Eles recordam-me que a vida devia ser alegre e fugaz. Têm que se aproveitar pois a Primavera e o Verão, não duram para sempre.

Escrevo por motivos terapêuticos depois de um longo interregno, auto-imposto, ou exigível.
Para ser honesto sinto a falta de escrever e da vontade inequívoca de desperdiçar no éter alguns pensamentos de um espécie de diário, num desabafo ou numa corrente de ilusões sem fio-de-prumo.

Antes de mais imponho-me uma simples regra, ou melhor uma hipótese de cuja tese não vai ser possível encontrar qualquer resultado.
Trata-se de saber que ninguém me lerá, e que se isso eventualmente acontecer, estou-me borrifando para isso: não estou a escrever para ninguém, a não ser eu próprio.

Este mecanismo online estimula a vontade com que matraqueio o teclado a horas quase sempre impróprias, e permite-me alguns momentos de desabafo, tal como já escrevi – de forma terapêutica, para apaziguar alguns estertores da mente e da psique.
Não quero fazer um auto-retrato escrito, não tão pouco me carpir de uma existência de meliante melindrado com as adversidades da vida. Também não quero criar uma espécie de anfetamina egocêntrica para masturbação narcisistica de enredos e papeis ambíguos, ou de uma tipo de narrativa das aventuras de Sinbad, o marinheiro. Nada disso.
Quero tão-somente meditar, colocar uma verborreia que serve de paliativo do que alma precisa.
Como se a se a minha caldeira quisesse libertar vapor para não explodir. É só isso. Vapor saindo pela chaminé dando força às engrenagens mentais, fazendo funcionar um raciocínio ou expurgando uma lógica falaciosa. O vapor nada significa, afinal é apenas um subproduto, um efeito secundário dos cavalos de potência que a caldeira produz e que repassa é máquina a vapor fazendo-a mover-se.
Por isso neste diário ficará tão-somente o vapor, esse desperdócio de força que impede que o sistema se destrua com a sua própria energia criada.

Everybody makes mistakes
but i feel alright when i come undone
you are not making me wait
but it seems alright as long as something’s happening
i try to make you late
but you fighting me off like a fire does
you try making me wait
but it feels alright as long as something’s happening

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

you try to make me wait
you come around when it’s come undone
everybody makes you late
and it’s never you because you’re always thinking
i try making you wait
and give you me some like you give it good
everybody makes mistakes
but it seems it’s mine that always keep on stinging

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

you try making me wait
but you come undone when you come undone
everybody makes mistakes
but it’s always mine that seem to keep on sticking

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

letra e música de LCD Soundsystem

Acende mais um cigarro, irmão
inventa alguma paz interior
esconde essas sombras no teu olhar
tenta mexer-te com mais vigor
abre o teu saco de recordações
e guarda só o essencial
o mundo nunca deixou de mudar
mas lá no fundo é sempre igual

E agora, que a lua escureceu
e a guitarra se partiu
D. Quixote foi-se embora
com o amigo que a tudo assistiu
as cores do teu arco-íris
estão todas a desbotar
e o que te parecia uma bela sinfonia
é só mais uma banda a passar

A chuva encharcou-te os sapatos
e não sabes p’ra onde vais
tu desprezavas uma simples fatia
e o bolo inteiro era grande demais
agarras-te a mais uma cerveja
vazia como um fim de verão
perdeste a direcção de casa
com a tua sede de perfeição

Tens um peso enorme nos ombros
os braços que pareciam voar
tu continuas a falar de amor
mas qualquer coisa deixou de vibrar
os teus sonhos de infância já foram
velas brancas ao longo do rio
hoje não passam de farrapos
feitos de medo, solidão e frio

Letra e música de Jorge Palma