Abril 2006

As palavras não são capazes de suster o peso das emoções fortes, nem milhares de frases podem descrever com autenticidade as imagens que ecoam na minha mente.

Como na música do Chico Fininho, só por leviandade se pode sorrir assim, – mas não o posso deixar de o fazer.

Why don’t you stay
I feel lucky today
Give me a chance
and I’ll show you the way

I know some day you’ll be mine
you will know too
it’s a matter of time

Oh! Let me hold your hand
Please, let your heart beat again

You know I daydream of you
I’m so in love
it’s too good to be true

You make me smile
as I look into your eyes
My heart is full
like my very first time

It’s like I was born again
I just can’t say
how happy I am

Oh! let me hold your hand
Please, let your heart beat again

Happiness Cinema Rodrigo Leão


As últimas semanas têm sido invulgarmente felizes e plenas de luz. Se eu já estava resignado a ser um adepto fervoroso dos voltes de face do destino, numa roda da fortuna que não para de rolar a seu bel-prazer, então agora sou um fanático do caos. Sei que neste momento de giro, os meus planos mal se podem cingir a mais de um par de horas… ali mesmo ao virar da esquina pode estar a maior e a mais bela inesperada surpresa, como um desalento não previsto.

Sem planos navegar à vista, sem mapas de navegar com rota traçada, olho as nuvens de soslaio, cheiro o vento e deixo que a bússola fique menos nervosa. Logo, logo o vento vira e vai conduzir-me para um destino idílico, muito mais precioso do que eu poderia alguma vez supor. Ser bom marinheiro é também saber para onde o mar da vida nos quer levar e deixar que a bolina não nos pare. Não é bom contrariar os elementos quando eles nos sorriem, e estou a adorar viajar até onde mil planos não me levariam, mas só o mais feliz acaso me transportaria.

Mil conversas podem-se perder, mil frases podem ficar esquecidas durante anos num recôndito neurónio. Mas a música perdura, lembrando-nos de uma miríade de momentos, sentimentos, alegrias e até euforias.

Sempre gostei de música. Avidamente consumo música, tenho gostos eclécticos sem nunca comprometer a qualidade. Desde Jobim a Franz Ferdinand, de LSD Sound System a The Clash, tudo sem o seu espaço, nos meus inúmeros catálogos virtuais de músicas preferidas. Passado, presente e futuro que trazem melodias e memórias, conforto e alivio, esperanças de novas emoções fortes.

E verdade seja dita: nada como um iPod como companheiro de corrida. É garantia de novo record pessoal.


O meu feitio tem muitas facetas contraditórias, muitos defeitos, mas ultimamente vive carregado de esperanças e equilíbrios ganhos a custo. Uns dos meus escapes favoritos são as minhas pequenas excentricidades, que podem ir de um universo relativamente banal da sanidade, até ao limite de ser tido como uma das possíveis aquisições da equipa de futebol 7 do Magalhães Lemos.

O facto de não me impor muitas regras, permite-me abraçar esses pequenos devaneios com muitas repercussões do foro monetário e até físico. Se aceitarmos um conceito bastante válido de que não poderemos levar o cartão multibanco no caixão, e que a certa altura a nossa saúde vai mesmo desaparecer apesar de todos os esforços em contrário, coloca-se-nos uma questão muito simples: porque não?

É certo que me recrimino por alguns gastos excessivos, mas estar no clube gourmet é sempre uma razão de júbilo, em que cada cêntimo é maximizado até ao último momento de prazer. Por outro lado, os gadgets que povoam a minha casa têm tido enorme utilização, tipo hour-and-hours of fun. Claro que fico com um pouco de sentimento de quase culpa, ou até vergonha por me estar a tornar um geek fora de tempo. Mas eu sou dado a excentricidades, certo? Se me apetecer ter comportamentos típicos Cro-Magnon, e desde que não verifique se a moca funciona correctamente quando admnistrada no craneo dos vizinhos, ninguém tem nada a ver com isso.

Também não vou ser possuido no amago por um ancestral homem de Neandertal, apenas porque prefiro socializar-me de uma forma mais exclusiva e talvez mais intensa, prosseguir com uma maior auto-indulgência, maior receptividade aos meus apetites, e fundamentalmente quebras hábitos e correntes. Liberar-me dos condicionamentos na sua forma mas acabada e última.

Quando a revi ao longe, não quis acreditar que todos aqueles sentimentos de puro deslumbre estavam reactivados. A sua beleza singela despertava de novo em mim aquela atracção intimidadora que eu sabia que em pouco segundos me iam tornar numa amiba embasbacada. Respirei fundo e segui em seu encontro. Não era mais tempo de não olhar olhos nos olhos uma mulher bonita.

Sonhos Urbanos