Dezembro 2006

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Escreve-se quando a alma se apoquenta, mas também quando a mente desperta. No meu ponto de vista, só quando a vida nada nos diz ou muito nos cansa, e que não temos nada para dizer ou escrever.

Contido nem sempre fui capaz de colocar no papel os últimos pensamentos voláteis ou emoções, porém o desejo de me libertar dos meu próprio sentimento de me exprimir, faz-me voar num ensejo por vezes delirante. Quando a barragem transborda é mais simples, e quando a privacidade se mantém as frases acumulam-se prontas a sair, a criar uma quadro a pinceladas toscas e de cores vibrantes. Como um meliante que nos sussurros se exprime e diz o que quer dizer e também o que não quer dizer, é assim que gosto de escrever. Desinibido e profundo como gostaria que fosse.

Porém quando a censura auto-imposta se agudiza é fácil esquecer o que se deseja escrever. Tal sucede pois a vida nem sempre é um mar de privacidade e sim uma festa de partilha e de convivência e conciliar a partilha e a intimidade com o mundo é um contra-senso e uma asneira pela qual já tive que pagar a punição variadíssimas vezes.

Mas hoje o castigo não me parece ser mais doloroso que a mordaça.

Os seus delicados dedos deslizavam acariciando o teclado do piano, tacteando e antevendo a melodia que em seguida ira tocar. A sua timidez fazia que estivesse corada perante um público novo. E era só eu que me ia deleitar com os acordes suaves da sonata que a encantara durante longuíssimas horas e inúmeras aulas na sua adolescência.
Quando os acordes soaram suaves e fluidos, com uma mestria singular naquele piano castanho sem cauda de que nunca gostará, pressenti o seu nervosismo desvanecer, e deleitando-me com a música senti-me comovido e ávido por beijá-la nos lábios ternamente quando acabasse de tocar para mim.

Sonhos Urbanos

Acho o nevoeiro fascinante pela sua aura de desconhecido e encoberto que encera.
O que a mente não vê, está escondido por um manto branco de nada que se afasta à medida que nos aproximamos, como que se fugisse. É como umaparábola física, do que buscamos e que só à medida que está perto se vai desvendando, e de como o que estava escondido afinal esteve sempre ali, e nós e que não oconseguíamos ver.


Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua.
Entre as esfera nitentes
Tremeluzem pelos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
De palidez e doçura.
Ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delírio de luxúria.
O gozo aumenta de súbito
Em frêmitos que perduram
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perpassa
Um salso cheiro de lua
E a lua, no êxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E míngua e se apazigua…
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes.

Foi contemplando a Lua ontem que consegui encontrar a minha estrela polar. Estava desorientado numa ausência de norte momentânea, e fui buscar refúgio num retiro frio e chuvoso na minha praia.
Felizmente o céu perdeu o seu tom muito nublado e a chuva cessou. Vi a aura madrepérola envolvendo o circulo prateado irradiante e senti-me compelido de energias novas.

Decidi correr, queimar gorduras e banhas que tenho acumulado nos últimos meses auxiliado pelo nano e cavalguei um bom par de quilómetros até um pontão esquecido entre a minha praia e a praia aguda. Ao som de uma melodia feita à medida percorri um estrado místico que se precipitava pela praia iluminada pelo luar intenso. Só e quente de suor senti a calma que necessitava e amenamente senti um abraço dos elementos e da Lua amistosa numa maré cheia de mar revolto num local deserto – uma sensação única de plenitude – de que algures o meu destino seguia o seu curso e que me assegurava naquele momento belo que seria promissor e ameno como desejo.

E de facto as tempestades são transitórias. São sempre.


O tempo é como a areia que se escapa entre os dedos. Depois das três décadas tudo parece escapulir, tornar-se vertiginoso e perigosamente rápido, num suceder de dias, meses, estações e até anos. Dou por mim a braços com uma memória em que a cronologia começa a ficar confusa – seria há seis ou sete anos? Foi antes ou depois de… ?

Este sinal de que o meu tempo já se escoa faz-me lembrar-me o quanto ele é preciso e o quanto se torna tormentoso saber que ele se estoura em banalidades.