esperança

A vida está repleta por altos e baixos, de momentos de excitação ou apatia, de alegria ou tristeza e também por saúde ou doença. Na verdade, essa montanha russa que chamamos viver é uma inconstante viagem de boas e más emoções que se vão sucedendo. E tudo sem que consigamos compreender a normalidade desta inconstância.

Quando adoecemos ou envelhecemos ou a quando as vidas profissionais ou amorosas se desmoronam julgamos que isso tem algo de anormal. Mas muito pelo contrário, nada de existe de mais normal.

E é nestes baixos da vida, em que parece que nos foge o chão que pisamos que podemos realmente vencer. É aí que surge a oportunidade de ter alguma sabedoria e refletir sobre o que realmente importa na vida e como é normal ganhar ou também perder.

Podemos sentir-nos perdidos e desanimados, mas é imperioso lembrar que sempre há luz no fim do túnel (seja ele qual for). A luz pode sempre surgir na mais profunda escuridão, estar ao virar da esquina da dor e do desespero.

À medida que os anos e décadas passam, temos que lembrar que esta vida é bela e cheia de surpresas. Que por muito negro que esteja o céu haverá sempre um silver lining. Não importa o quão sombrio possa parecer o momento atual nunca devemos perder a no futuro. Há luz depois.

Então, encontremos a luminosidade em nossas vidas e compartilhemos essa luz com os outros. Afinal, a verdadeira felicidade está em dar amor e esperança para aqueles que nos rodeiam, sem pedir nada em troca. A verdadeira felicidade é dar e não ter. É a gratidão. É a partilha.

Não devemos desistir de encontrar essa claridade na nossa vida. Através de relacionamentos saudáveis e de experiências enriquecedoras há a verdadeira luz. E momentos de gratidão. Afinal, a vida é uma jornada, e a “luminosidade” está sempre ao nosso alcance.

Estive internado no Verão. Nessa altura ofereceram-me um pequeno livro, daqueles clássicos intemporais como entretém para poder matar as horas na convalescença. O livro era A Morte de Ivan Ilitch de Liev Tolstói que eu imperdoavelmente nunca tinha lido.

Talvez não seria uma boa opção de leitura, para alguém que está doente, mas mesmo assim deixei-me a envolver nessa obra literária e na sua história de um dos maiores nomes da literatura russa. A história relata o desenlace inalterável da morte, que um burguês tem que suportar de uma forma particularmente estranha e quase assustadora. O pobre personagem principal é um moribundo, que sem saber que o é, vive num pesadelo onde a doença o vai dominando aos poucos até o cobrir num manto de morte.

Numa cama de hospital, lendo tal obra, não pude deixar de imaginar tal realidade, esse desconforto aterrador de lutar contra a inevitável morte, que tal como no livro, podia-se-ia estar a passar paredes meias comigo.  Alguém, perto de mim, poderia estar tal como a personagem principal do livro, a ter uma luta pela sobrevivência e contra a dor, sem qualquer sucesso como se fosse uma via sacra. Esse pensamento de ter um vizinho real, vivendo nessas circunstancias, foi-me muito ingrato e  de certo modo temporário muito desanimador.

Sempre vi os hospitais, como locais de esperança e de vida, não como zonas de desespero e morte. Eu salvei-me num hospital quando era adolescente, lutei pela vida e sobrevivi e dessa forma, encarei sempre os hospitais como locais de luta pela sobrevivência.

Com essa leitura não pude deixar de meditar, tal como me recordei da tradição budista, de se ter a lembrança que a morte é um evento que está presente ao virar da esquina. O Maranasati como meditação procura estabelecer um estado de espírito, em que se vive sabendo que a morte não é um evento eventual, mas uma certeza inescapável que acontecerá a qualquer altura, seja no próximo segundo ou daqui a cinquenta anos. E por isso esse viver é mais intenso e consciente, pois se interioriza como é passageira a nossa existência neste plano temporal.

E foi assim que um livro escrito à 135 anos, na sua actualidade me chamou a atenção que a vida não se deve viver em função de um propósito meramente consumista e vazio, mas sim repleta de propósito intrínseco. Serviu para algo a minha doença, no mínimo para me relembrar dessa maneira de ser tão importante.

Por vezes somos confrontados com situações na nossa vida que nos fazem reflectir na importância da vida em si.

Esta semana tem sido particularmente fértil de lições de vida que me mostraram que 99,9% dos problemas que nos afectam diariamente não passam de melodramas singelos e enredos de telenovelas medíocres. Para
Muitas vezes passam ao nosso lado personagens banais, transeuntes normais da vida, pensamos nós. Mas quem sabe essas pessoas lutam diariamente com batalhas perdidas e mesmo assim não deixam que o sofrimento os abata.

Sinto-me até envergonhado de por vezes achar que não tenho sorte, ou que nem tudo me possa correr bem, quando sou confrontado com exemplos de miséria e ausência de esperança tão pesados. Tudo se torna relativo, inútil e inconsequente logo que entramos em contacto com o sofrimento a que se assiste numa enfermaria pediatrica. Parece que o conceito de justiça se desvanece no ar. Esfuma-se no ar toda a fogueira de trivialidades. Só fica o importante.

Às vezes apercebemo-nos que amadurecemos e que estamos mudados. A matriz da alma modificou-se sem avisar, alterou-se, melhorou-se sem que tivéssemos consciência da requalificação interna.

O Verão sempre foi um florir de intensas emoções ou um sublimar de esperanças. De mão dada com um Sol cada vez mais intenso, é normal nas minhas recordações, atingir uma espécie de pedrada de estio. Sentir-me livre e vivo. Alegre.

Este ano foge à regra. Todos os hábitos caem por terra, todas as recordações não fazem sentido. Não é o estio que me faz pulsar. Nem são as esperanças que me alegram, ou o sol que me aquece o espírito. É algo mais substancial, menos efémero. É algo de permanente que não desaparece numa ressaca outonal, ou se esfuma numa memória devidamente arquivada no cérebro na zona denominada Verões do passado.

A vivência é outra, a maturidade e equilíbrio são o sustentáculo de um novo paradigma, daquilo que eu sempre desejei e agora está comigo. Um pico de felicidade. Um verdadeiro e absoluto Cloud 9 .

O meu feitio tem muitas facetas contraditórias, muitos defeitos, mas ultimamente vive carregado de esperanças e equilíbrios ganhos a custo. Uns dos meus escapes favoritos são as minhas pequenas excentricidades, que podem ir de um universo relativamente banal da sanidade, até ao limite de ser tido como uma das possíveis aquisições da equipa de futebol 7 do Magalhães Lemos.

O facto de não me impor muitas regras, permite-me abraçar esses pequenos devaneios com muitas repercussões do foro monetário e até físico. Se aceitarmos um conceito bastante válido de que não poderemos levar o cartão multibanco no caixão, e que a certa altura a nossa saúde vai mesmo desaparecer apesar de todos os esforços em contrário, coloca-se-nos uma questão muito simples: porque não?

É certo que me recrimino por alguns gastos excessivos, mas estar no clube gourmet é sempre uma razão de júbilo, em que cada cêntimo é maximizado até ao último momento de prazer. Por outro lado, os gadgets que povoam a minha casa têm tido enorme utilização, tipo hour-and-hours of fun. Claro que fico com um pouco de sentimento de quase culpa, ou até vergonha por me estar a tornar um geek fora de tempo. Mas eu sou dado a excentricidades, certo? Se me apetecer ter comportamentos típicos Cro-Magnon, e desde que não verifique se a moca funciona correctamente quando admnistrada no craneo dos vizinhos, ninguém tem nada a ver com isso.

Também não vou ser possuido no amago por um ancestral homem de Neandertal, apenas porque prefiro socializar-me de uma forma mais exclusiva e talvez mais intensa, prosseguir com uma maior auto-indulgência, maior receptividade aos meus apetites, e fundamentalmente quebras hábitos e correntes. Liberar-me dos condicionamentos na sua forma mas acabada e última.

Estou feliz apesar de umas costeletas fora do sítio que não me deixam dormir.
Sei que velhos hábitos não se costumam perder, mas tal frase é uma mentira escabrosa. Os hábitos perdem-se, desde que para isso exista força de vontade e algum ombro amigo que nos ajude a quebrar hábitos.

As eleições de ontem mostraram que o hábito do desinteresse cívico afinal diminuiu. A diminuição da abstenção da República veio dar um balão de oxigénio na esperança de democracia, e assegurar-me que afinal essa treta da república de bananas pode ser mudada. Pelo menos nisso tenho esperança.

Lusiadas III canto

Eremita versus Adamastor

Vetei-me a uma merecida e ansiada auto-reclusão. Não se trata de um conceito asceta, ou uma espécie de mortificação de penitência. Adoro estar rodeado de gente mas neste momento da minha vida, estritamente a nível temporário necessito de uma calma absoluta, para recarregar a minha força interior.

Acredito que muito brevemente terei novos desafios importantes. É tempo de encarnar um Infante D.Henrique viajando para longe da corte e recolhendo-se na minha Sagres, para antever e planejar todo o grande desafio contra o terrível Adamastor e suportar as críticas dos velhos do Restelo.

É tempo de reformular técnicas, encontrar os mais propícios caminhos, elaborar mapas precisos e de montar toda uma empresa épica capaz de dar frutos mais tarde, um edifício robusto, com bases sólidas para suportar as adversidades que parecem tornar impossível o nosso objectivo. Os grandes investimentos demoram a dar frutos, e tal como na quimera lusitana, o que se começou agora, só deverá dar frutos num futuro distante, e para isso é preciso muita determinação, insistência e um valor e coragem a toda a prova.

Não vou defrontar o gigante monstruoso, mas sim os meus próprios monstrinhos, é necessito do carisma de um Bartolomeu Dias para transformar um Cabo das Tormentas num Cabo da Boa Esperança.

Já o suor me escorre num ardor de Verão
Trabalhando num cubículo fétido
Num velório sem defunto.

Suportando os rigores do assalariado
Contido, sou prédio devoluto
Fundo de alicerces abalados

Pouco futuro, parcas esperanças
Nada que um suspiro possa transpirar
Nada que um olhar possa transparecer
Nada que o cansaço possa vencer.

E é sinal de que a mísera e fútil
Consciência ressequida não é eterna,
Nem noite perdura.
É só o suor desta luta!

Retorcido numa secretária inútil,
Vejo-te terra prometida
Essa luz viciante,
Longe e distante,
Forte e vibrante.

Corro em teu encalço
Solto, livre de ilusões
Para realizar nosso sonho.

Na semana passada vi finalmente andorinhas a esvoaçar. Nada como essas simples aves para simbolizarem uma nova etapa do retorno anual, da sucessão das estação. As andorinhas são para mim o mais perfeito dos arautos de que a Primavera tomou com força o seu lugar e que vai florir e expandir-se em vida nova em breve.

Todos aqueles voos rápidos e picados, serpenteando em mil direcções, com voos rasantes e abrutos, mostram toda a energia, alegria e ânsia com que a nova renovação anual da vida se faz sentir. Ao observar esses seres tão frágeis, tão felizes, com um piar tão agitado e suave, faz-me sentir uma calma e esperança profundas. Fiquei feliz.

Resta o tempo e uma nova vida resplandece.

E depois dos festejos carnavalescos com perucas e equipamentos afis, nas terras famalicenses, volta-se a tentar juntar os ossos e recuperar as maleitas de duas festanças quase seguidas. O tempo passa ligeiro e as semanas sucedem-se, umas mais banais e rotineiras, outras cheias de dramatismo e comédia do teatro da vida.

G. permanece um ponto de referência e cruza-se comigo quando menos espero. Aqui, ali, acolá. Como se nada de previsto servisse para nos juntar de forma estranha como um conjunto de encontros clandestinos. Seus olhos me hipnotizam e sempre sinto como que um grito estranho da sua alma, mas que nunca concretiza no exterior e eu não me sinto com forças, ou à vontade para lhe arrancar cá para fora. É sempre noite, é sempre fashion, é sempre dois mundos à parte.
E eu ainda não pulei. E há sempre um nó por desatar nas nossas vidas que sabemos que podia ter sido simples de abrir.

As últimas semanas foram ensombradas pelo desassossego. O Meu Muito Caro Inspector P. foi finalmente pai. Mas logo após as felicitações ouve a sombra do anjo negro rondando Ana para desespero dos jovens pais. Nessas alturas de suspense pouco à a fazer senão dar o nosso apoio e partilhar a nossa sincera apreensão, dando algum conforto e apelando à Fé e Esperança.
Deixo-me abater quando a roda do destino anda à roda, deambulamte para um desfecho. De todos os males a saúde é o mais estranho. Escapa-se ao nosso controlo para lá de um aspecto causa/efeito. Como a lotaria é uma questão de chances. Temos a cautela e resta-nos esperar.

Felizmente a bebé reagiu e conseguir dar algum animo e felicidade aos alarmados e traumatizados pais que agora se desfazem em mil cuidados e receando perigos vindos do nada.

Resta o tempo e uma nova vida resplandece.

O virar da página

Há uma lei da física de Lavoisier que se adequa às nossas vidas :


Na Natureza nada se perde, nada se cria: tudo se transforma

Creio que este postulado é uma verdade absoluta, provada cientificamente no mundo da física que pode ser alargado ao mundo da metafísica. A nossa alma e a nossa mente também evoluem e se transformam. Há sempre pontos-chaves na nossa vida que geram novas fases e este último fim-de-semana foi um desses marcos de mudança.

O virar da página é um renascimento, uma lufada de esperança, como que se começasse a escrever um livro sabendo que nas páginas em branco há muito que preencher e nesse ponto de partida se pode chegar a mil e um finais para a história que vamos contar.

Diverti-me muito na grande cidade nesses dias que antecedem e sucedem ao dia das bruxas. A lua cheia em simultâneo exerce aqueles devaneios singelos levando a pequenas ou grandes emoções e nada melhor que acabar um capítulo numa altura como essa. Mesmo nostálgico com a percepção de encontrar um fim, senti o brilho e cor que guardarei com satisfação na memória.

Contudo há sempre fantasmas e assombrações da época e das eras passadas. Sem sentir pena, vemos os enganos e os desenganos, as injustiças e as alucinações.

VIVA LA PLAYA
Finalmente fui a banhos, graças a um Sol bonito daqueles que recarga as baterias e regenera e refresca a mente.
Há muito devido aos meus ossos, aquela água fria em ondas encrespadas foi um baptismo de luz, esperança e paz. Sou livre, sou saudável e amo a vida!
VIVA LA VIDA

Ontem foi um dia particularmente subterrâneo. A grande cidade reservava-me os prazeres do metropolitano, numa estação particularmente clara e hospitalar em que as escadas-rolantes vomitavam gente da sua garganta sem fim.

O Metro tem um fascínio particular sobre mim. As profundezas da terra transformam os vulgares citadinos em toupeiras mutuantes que transpiram medo e suam trabalho e pressa. O ambiente artificil da claridade falsa denota o espirito intemporal onde é sempre noite e tudo e todos estão em transito, indo para algum destino qualquer – qual o teu destino estranho?
Para onde vais e de onde vens?
Quem és tu que olhas para mim?

O time warp entre as estações é um vazio sem luz e sem lembranças.

No Bairro alto E. Ma. B. e C. estavam uma companhia exemplar apesar de batermos à porta de locais fora dos roteiros tristes. Foi divertido e uma novidade onde o alcool sangrou claro e doce…

A saudade e dúvidas apertam… A irmã falou-me nas suas esperanças renovadas que já não eram sem tempo. As curvas acabaram e estamos a chegar à recta. Seu esposo já tem raíz defenida e o Capuchinho Vermelho rui e sorriu.

Estive novamente naquele santuário observando dois rebentos que chutavam a bola enquanto a gretada avó os guardava. Eram felizes… Ali o tempo não me toca e o espirito recarrega de sonhos e esperança o cigano malfadado.

Felizmente há amigos com que podemos contar. B. é um deles. Ma. e E. ainda estão grogues e Bob andou a assustar a vizinha.

Falei com a minha mana e o meu cunhado. Realmente as coisas estão a ruir como um castelo de cartas. Apesar disso é bom ouvir vozes amigas.

A manhã está bonita e a grande cidade parece renovada. O dia está calmo e estou repousado e rejuvenescido. Capaz de enfrentar mais adversidades.

A minha irmã está mais calma e a sua vida parece que se está a endireitar e as minhas perspectivas de futuro começam-se a delinear com uns contornos mais definidos. Um dia com esperança